quinta-feira, março 19, 2009

Saturday Night and Sunday Morning

Ontem vi pela primeira vez este "Saturday Night and Sunday Morning".

Os filmes sobre a angústia existencial, que povoaram os "novos cinemas", são normalmente marcantes e este não foge à regra... Mas são filmes de outros tempos, em que o inconformismo se prendia com aspectos que hoje não nos tocam, até ver, contudo... Se "Saturday night and Sunday morning" se alicerça nas reminiscências dos moldes laborais da revolução industrial, certo é que o cunho neo-liberal que vão ganhando as actuais sociedades, poderá trazer à baila os problemas do passado, de quem trabalhava horas a fio em fábricas de indústria pesada... Uma diferença apenas, o "fato-macaco" virou "fato-para-macaco" e o óleo das engrenagens tranformou-se em ar-condicionado. O modelo, esse, parece-me o mesmo...

Arthur é um trabalhador, mas recusa-se determinantemente a ser um trabalhador como os outros. Recusa a família e os filhos. Recusa perder a liberdade. Dentro da fábrica é um autómato, fora dela empolga o seu espírito anarquista, direccionando-se às maiores tropelias e devaneios boémios.

Acima de tudo, vejo neste filme um retrato do espírito inconformado de quem, conformando-se com a rotina, faz seus, e apenas seus, os recantos que a ela não pertencem. Meio mundo em guerra. Quem consegue ser livre, por o conseguir, quem não consegue ser livre, por querer impedir os outros que o sejam... Um pouco de "easy-rider"...

Uma nota final para a sequência da feira, coroada com uma montagem estonteante e ímpar em todo o filme. Um cheiro a "novo cinema".

Vale a pena ver. Não é uma obra brilhante, ainda assim essencial...

3 comentários:

H. disse...

Também me ocorre muitas vezes que antes haviam outras «circunstâncias» relacionadas com o inconformismo... Ou havia outra predisposição para ser inconformista, não sei. Provavelmente era mais fácil.

Stalker disse...

Não vi mas fiquei com vontade de ver. :-)

Ursdens disse...

H:

A sociedade não estava politizada e partidarizada da forma como hoje está... Talvez fosse essa a facilidade, ou talvez fosse apenas o facto de o corpo doer mais no fim de um dia de trabalho... O desconcerto do mundo, esse, vai sendo uma constante...

Stalker: Força nisso!

Cumprimentos cinéfilos a ambos!