quarta-feira, janeiro 17, 2007

Ainda sobre o Lost in Translation e a Sofia Coppola e a dificuldade de comunicação e o Babel se calhar...

Durante a quadra natalícia, como é habitual, vi alguns filmes. Nessa altura, quando não me aparece lá tudo em casa e se acaba a ver um filme estúpido qualquer, costuma haver tempo para rever umas coisas. Este foi, assim, o terceiro Natal consecutivo no qual partilhei alguns momentos com o "Lost in Translation" (já começa a tornar-se um vício...).

É um filme do qual se vai continuando a falar... Ou por ser considerado obra prima, ou por ser considerado simplista e inócuo, ou por ser, pura e simplesmente, o filme mais conhecido daquela tipa que é filha de um gajo muito fixe que até fez os padrinhos e aquele da guerra em que o Marlon Brando é meio doido...

Referi-me a ele há uns tempos a propósito de "Babel". Disse na altura que, em "Babel", vi um pouco de "Lost in Translation".

Sobre as bizarrias nipónicas, disse-me alguém, que elas eram mostradas em "Lost in Translation" como uma espécie de "vejam tão diferentes que eles são"... E nisto pûs-me a pensar se haveria alguma relação a estabelecer com "Babel" neste aspecto. Muito francamente penso agora que não..., pelo menos quanto à questão central em "Babel".

Disseram-me também que não existe piada nenhuma em retratar a degradação do sonho desfeito de recém casados e o vazio da falta de compreensão entre casados de há muitos anos... Que, em "Lost in Translation", se vê uma realidade há muito conhecida, apresentada como um cliché...

E nisto pûs-me a pensar sobre o assunto, dizia eu...

Lost in Translation é um filme diferente... Diferente, em primeiro lugar, por ser escrito e realizado por uma mulher, coisa nada habitual em filmes com tanto impacto. Diferente por ter sensibilidade feminina estampada em cada plano, por ter essa sensibilidade feminina impressa no argumento, por juntar a isto tudo uma envolvência criada pela fotografia e pela banda sonora, ambas extasiantes...
Mas sobre o que fala "Lost in Translation"?

-Sobre as dificuldades de comunicação? Naturalmente..., mas acessoriamente também...

-Sobre as diferenças entre orientais e ocidentais? Claro que sim, mas mais uma vez apenas como complemento a uma questão muito maior...

"Lost in Translation" fala da desorientação..., da inadaptação..., do não tocar, do não conseguir ser tocado/a... E fá-lo sempre com uma frescura harmónica, sem que o filme se torne claustrofóbico.

Ao fim e ao cabo, fala-nos dos nossos limites, das nossas possibilidades..., do vazio que se sente uma vez por outra, da coragem que se pode ter para o combater... O cinema de Sofia Coppola é aliás, até à data, um cinema da inadaptação, seja em "As virgens suicidas" ou em "Marie Antoinette", como em "Lost in Translation".

Há alturas no filme, mesmo antes de os personagens estarem definidos, em que sabemos logo que aquela mulher "está lá mas não está" e que aquele homem "não sabe bem onde está"... Seja pelos longos planos de Scarlett na janela do hotel, seja pelas bizarrias da realização de um anúncio... passando pelo copo que deveria ter whisky e, em vez disso, tem ice-tea... Nada bate certo aparentemente... Bob e Charlotte têm precisamente tudo o que não queriam ter e faz-lhes falta tudo o resto. Encontram-se, partilham e partem... É aí que vejo a mestria de Sofia Coppola, é em contar uma história descrevendo meros ambientes, em significar por mero uso do plano, como se os momentos de silêncio fossem os mais importantes e mais carregados de significação em todo o filme.

Se, pelo filme a dentro, nos vão dando histórias bizarras ou diferentes é porque, daí, Sofia Coppola quis extrair elementos coadjuvantes a um de três conceitos: quer a inadaptação, quer o vazio, quer a esperança de um qualquer devir...
No final não sabemos nada sobre Charlotte e Bob. Não sabemos se ficam juntos, se não, não sabemos se deixarão as vidas que levam, não sabemos sequer se encontraram a solução para o vazio que sentiam... Sabemos apenas que tentaram, que sonharam e, estejam ou não os problemas resolvidos, fiquem ou não juntos, esse sonho valeu a pena...

Ora, e concluindo, "Lost in Translation" é um filme aparentemente banal, que apenas não o é por falar de certas e determinadas coisas banalmente... neste caso o fácil seria dramatizar...

2 comentários:

Paulo pereira disse...

Precisava de ajuda, faz tempo que procuro o filme "talhado no ceu" (made in heaven), fico antecipadamente agradecido por quem me puder auxiliar. o meu email é paulo1965@gmail.com

Ursdens disse...

Não te posso ajudar pá, nuca vi o filme... procurei no imdb e apareceram lá uma série de filmes com esse título, logo nem sequer sei a qual te referes...

Cumprimentos!