quinta-feira, novembro 30, 2006

Adeus Minha Concubina

Realizado por Kaije Chen em 1993, "Adeus minha concubina" retrata a vida de dois amigos, percorrendo cerca de cinquenta anos da história da China.
Dieyi e Xiaolou conhecem-se na escola da Ópera de Pequim, ainda miúdos, durante os anos vinte. Esta instituição apenas podia ser frequentada por homens e gozava de um prestígio tremendo, fazendo parte integrante da cultura e tradição chinesa pré-revolucionária. Assentava em princípios rígidos, no que à disciplina diz respeito, e impunha sérias restrições aos aprendizes, moldando-os espartanamente ao papel de actores de ópera chinesa.

A dada altura, Xiaoulou conhece Juxian, uma prostituta, e decide casar-se com ela. A partir desse momento Dieyi, que sentia uma quase obsessão pela sua amizada com Xiaolou, passa a encará-la com outros olhos. Daqui se vai fazendo o filme, questionando-se os limites da amizade possível entre dois homens, quase irmãos...

"Adeus minha concubina", ao mesmo tempo que centra as suas atenções no evoluir da relação entre Dieyi e Xiaolou, vai contando, paralela e acessoriamente, a história de momentos conturbados do Séc. XX chinês, tais como a Invasão Japonesa, a Revolução Cultural ou a Queda da Monarquia. É, neste sentido, muito influenciado por "O Último Imperador" de Bernardo Bertolucci, também este um filme de antologia no que ao Séc. XX Chinês diz respeito.
A dada altura o espectador tem a sensação de mergulhar constantemente no universo da teatralidade. "Adeus Minha Concubina" é um filme sobre a Ópera Chinesa, sobre uma arte/tradição tão diferente de qualquer realidade que possamos encontrar na cultura ocidental. Neste âmbito, assistimos a momentos de enorme sensibilidade que criam um corpo estético-narrativo de sobeja intensidade.

Aponto apenas duas falhas, a meu ver, na realização. A primeira prende-se com a falta de ritmo de que o filme padece em alguns momentos, nomeadamente aquando da inserção dos relatos históricos na narrativa principal. A segunda, que é uma opinião muito pessoal, é relativa à fotografia. É que, muito francamente, não achei que fosse aquela a melhor cor para fazer este filme. Aqueles filtros, sépia ao início e azul, parece-me, no restante... É a tal coisa, são gostos...

Ainda assim, vale muito a pena e recomenda-se!

domingo, novembro 26, 2006

Alemanha ano zero

Quando terminou a Segunda Guerra Mundial logo se esboçaram os primeiros traços do movimento neo-realista. Enfrentava-se um mundo devastado pelos horrores da guerra e no qual os actos mais hediondos tinham sido praticados. A miséria e a fome alastravam-se um pouco por todo o lado e a sociedade reflectia este estado.

O neo-realismo surge, por isso, como um movimento de reação perante tais horrores e têm o seu expoente máximo no cinema, visto ser esta a forma de arte mais abrangente e cujo universo chegava a um maior número de pessoas.

O cinema neo-realista conta-nos pequenas histórias traumáticas e expõe-as de uma forma neutra. Não é o realizador a emitir o juízo de valor à priori, mas sim o espectador a construí-lo.

É certo que os meios económicos para financiar um filme nesta altura eram escassos, mas a intenção dos realizadores neo-realistas era precisamente trazer à tela um cinema o mais crú possível, em que a realidade fosse retratada no seu estado puro.

Reduz-se por isso a influência da montagem na manietação da apreciação crítica do espectador. Este é um cinema que mostra e apenas isso. Um cinema que se preocupa em dar a conhecer a decadência de uma civilização para que a mesma se reconstrua com base nos seus erros.

Em "Alemanha ano zero" Edmund é o personagem principal. Um miúdo que se vê obrigado a carregar o peso do mundo às costas e a prover ao sustento de toda a sua família. O seu pai está doente e não pode trabalhar, o seu irmão não tem documentos.

Edmund é enganado pelos que pretendem explorar a sua inocência e mal amparado pelos que lhe são mais próximos.

A dada altura sugerem-lhe que mate o seu pai (afinal de contas um peso morto). Edmund pensa sobre o assunto, mas não consegue... Aguenta o máximo que pode, até poder...

Roberto Rossellini estampa na tela uma história sobre uma criança que não teve tempo para ser criança, um adulto à força... Os minutos finais de "Alemanha ano zero" são dos mais dramáticos que já foram retratados no cinema...
Pena que, nos dias que correm, ainda existam muitos Edmund's e o cinema neo-realista não tenha sido suficiente para os "exterminar"...

A finalizar, deixo-vos algumas palavras de Rosselini sobre uma questão que abordei num post anterior, relativo ao filme "Stroszek":

"Crê-se demasiadas vezes que o neo-realismo consiste em fazer representar o papel de um desempregado por um desempregado. Pode-se escolher qualquer pessoa na rua. Eu prefiro os actores não profissionais porque eles chegam sem ideias preconcebidas. Olho um homem na vida, fixo-o na minha memória. Quando se encontra diante da câmara, ele fica completamente perdido e vai tentar «representar»; é aquilo que é preciso evitar a todo o custo. Esse homem faz gestos, sempre os mesmos; são os mesmos músculos que «trabalham»; diante da objectiva ele fica paralizado, esquece-se de si mesmo - tanto mais quanto nunca se conhece -, acredita tornar-se um ser excepcional sobre o pretexto de que o vão filmar. O meu trabalho é de o restituir à sua verdadeira natureza, de o reconstruir, de o fazer reaprender os seus gestos habituais."

Texto retirado de "As Poéticas do Cinema" de Carlos Melo Ferreira, tradução do autor.

terça-feira, novembro 21, 2006

Obrigado...






Pelas histórias de costumes, pela doideira da comédia negra, pela música country (tão foleirinha às vezes), pelos longos planos caóticos em que todos falavam ao mesmo tempo, pelo novo cinema...

segunda-feira, novembro 20, 2006

Anda gente nova no Sotão...

Bem Vindo!

sábado, novembro 18, 2006

terça-feira, novembro 14, 2006

Marie Antoinette

Até ter ido ver este filme, o único que li sobre ele foram críticas negativas. Cannes porventura não o aceitou bem pelo mal que possa fazer ao ego francês... Mas penso sobretudo que isso se deve à urgência de comparar "Marie Antoinette" com "Lost in Translation", a obra prima da realizadora Sofia Coppola. É impossível tal comparação..., os jardins de Versailles nunca serão tão tocantes como os jardins orientais... e a angústia existencial de Marie nunca terá o mesmo impacto que a de Charlotte...

Marie Antoinette retrata a diferença entre a corte de Viena e a corte de Versailles e é deste binómio que se faz a primeira parte do filme. Uma miúda que vem de um ambiente aristocrático casual e encontra o mais elaborado e formalizado ambiente que era possível encontrar numa corte oitocentista.

Depois disso, Marie, toma as rédeas de Versailles de assalto e torna-se rainha, após a morte de Luis XV.

Em termos de biografia histórica, Coppola tenta, de certa forma, absolver Marie Antoinette das acusações que, ao longo do tempo, lhe têm sido imputadas, ou seja, ser ela a responsável pelo dealbar de uma era e pelo despoletar da revolução francesa... Vemos uma Marie Antoinette sensível, boémia e estravagante, mas sempre com uma parcela de humanismo efervescente.

O filme em si peca por alguns planos longos em que a abundância de cores, ao estilo rococó, cria um certo tédio na imagem.

Fora isso, é brilhante na transposição de ideias e modos de agir contemporâneos para uma época em que os mesmos não seriam usuais. Brilhante como se faz um filme urbano em Versailles.

O plano final é de uma simbologia atroz e deixa o espectador estarrecido e extasiado, pelo menos deixou-me a mim.

A banda sonora é magnífica e integra-se numa certa cultura pop que Sofia Coppola quis imprimir no filme. A cena das "All Star", sobre a qual tanta tinta escorreu, é menor no filme, significante, talvez, da puerilidade de Marie, ou das mudanças que queria imprimir na corte.

Enfim, um belo retrato histórico, com pormenores cinematográficos que só a sensibilidade feminina de Sofia Coppola nos poderia oferecer. Não é nenhuma obra prima, mas merece ser visto.

sexta-feira, novembro 10, 2006

3 dias, 4 filmes

Há cerca de três dias revi "Danças com lobos". A fotografia é magnífica, o Kevin Costner péssimo, já nem me lembrava de tão mauzinho que o homem é... O filme teria tudo para ser brilhante, mas aqueles "pormenorzinhos da pipoca"..., fico verde...

Entretanto voltei às salas de cinema e logo para ver três filmes de enfiada em dois dias. :D

Ora, comecemos por "Little Miss Sunshine", que vi ontem. Um road movie giro (e, para quem me conhece, giro não é propriamente animador). Cheio de piadas implícitas e relativamente bem montado. Proporciona um entertenimento agradável, mas só isso...
Quando acabei de ver o filme olhei para o cartaz e vi lá a insígnia do Festival de Sundance. Aí fez-se luz... É que não há nada que tenha visto a ganhar prémios em Sundance que não caracterize por giro, tão só. Mas é a tal coisa, neste aspecto sou um bocado suspeito...
De resto, detestei o final. Raios partam os "pormenorzinhos da pipoca"...


Hoje vi doi filmes. O Primeiro foi "Dans Paris".
Gostei e acho-o um bom filme, denso quanto baste, ligeiro quando tem que o ser e recheado de boas interpretações.
O facto de Louis Garrel olhar directamente para a câmara em certas alturas e ser o narrador do filme é interessante e até inovador da forma como foi feito.
Achei também engraçada a ideia de alguns dos diálogos surgirem sem que as personagens falassem, mas ouvindo-se as vozes delas. Aconteceu sempre nos momentos mais intimistas, bem esgalhado!
As interpretações de Garrel e Duris são muito boas, embora considere a do segundo melhor que a do primeiro, ao contrário do que cogitava antes de ver o filme.

Como a sessão de "Dans Paris" foi às 19:20h, ainda tive tempo para ir ver "The Departed" às 21:45h.
Não me arrependi, ao contrário do que estava à espera.
Não é que o velho Scorsese de "Taxi Driver" e afins tenha voltado, longe disso. Mas, em relação a "The aviator", "No Direction Home", ou até "Gangs of New York", nota-se que o homem voltou a entrar nos eixos...
Este filme é do género de "Goodfelas", mas com uma estética e uma ambiência muito mais contemporâneas.
Pena que o final da narrativa seja previsível, embora esta esteja muito, mas mesmo muito bem estruturada.
A fotografia não é brilhante, excepção feita a alguns trechos do filme, mas não se nota uma homogeneidade capaz de a definir como de grande qualidade. Equilibra-se este ponto com uma excelente realização.
As interpretações são boas, embora destaque a de Matt Damon, para mim aquele que esteve em melhor plano.
No final Scorsese delicia-nos com uma metáfora muito boa. Atenção aos pormenores inicias da cúpula dourada e ao ratito que aparece no fim...
Enfim, violência crua, acção constante, boa estrutura narrativa, à Scorsese. Os cinco euros e vinte afinal valeram a pena.

Por aqui me fico...

terça-feira, novembro 07, 2006

Stroszek

Bruno Stroszek é o personagem principal deste filme, realizado por Werner Herzog em 1977.
Bruno sofre de atrasos psico-intelectuais e é liberto de uma cadeia, onde tinha sido encarcerado devido às zaragatas que frequentemente arranjava, dado o seu estado mental. Nesse momento conhece Eva, uma prostituta, por quem imediatamente se apaixona, e Scheitz um velho delirante e castiço, seu vizinho.
Bruno é, de certa forma, uma personagem carente e sensível. É músico nas horas vagas e toca deambolando pelas ruas. Não tem noção das coisas mais elementares, é nayf e deixa-se enganar com uma facilidade tremenda por quem quer que seja.
Bruno, Scheitz e Eva viajam para os Estados Unidos em busca do sonho Americano e não tardam a encontrar uma realidade bem diferente da que esperavam. Encontram a América real, fria, desumanizada.
O que ao princípio parecia esperançoso, torna-se o retrato do sonho desfeito e da ilusão permanente, em que o espaço para as quimeras é parco perante a urgência de viver, ou melhor, sobreviver...

Vejo Stroszek como um filme, de certa maneira, neo-realista. Com efeito, Herzog capta a realidade no seu estado mais miserável e crú. Bruno Stroszek está para Herzog como Edmund para Rosselini ou Antonio para De Sica.

Este filme é uma crítica ao mundo dos números, ao mundo em que o dinheiro se torna necessário e o bom coração um peso. Uma crítica à América do sonho sonhado, que a realidade destrói e torna pretérito.

Estamos habituados a ver os grandes realizadores fazerem enormes exigências aos actores. Veja-se, a título exemplificativo, Polanski e Adrien Brody, ou Von Trier e Bjork. Pega-se num argumento com o cunho pessoal do "auteur" e o actor tem que se enquadrar na personagem previamente delineada. Aliás, é isso que vulgarmente distingue um actor de um amador, a capacidade de ser muitos eu's, de representar, de fingir, de ser o que não se é.

Ora, Herzog é completamente distinto neste aspecto, prendendo-se à naturalidade do actor como forma de construção da personagem. Não é já a personagem que faz o actor, mas o actor que faz a personagem. Quantas vezes Herzog irritava propositadamente Klaus Kinsky, quantas vezes o filmou sem ele saber? Onde estaria o Aguirre que conhecemos sem um Kinsky possesso e irritado?

Em Stroszek a história é quase a mesma, mas com alguns elementos que complicam a questão. Senão vejamos:

  • Bruno Stroszek é o personagem, Bruno S. o actor.
  • Bruno Stroszek esteve preso várias vezes, Bruno S. deambulou por hospitais psiquiátricos até aos vinte e três anos.
  • Ambos têm problemas mentais.
  • Ambos são músicos.

Existe quase uma fusão entre o personagem e o actor, forma que Herzog vê como a melhor para atingir a naturalidade que procura, sem que com isso desvirtue o dramatismo, não o tornando perfeito, mas real. Acrescente-se que Herzog tem por hábito usar actores amadores, assemelhando-se a Pasolini neste aspecto.

A finalizar, uma curiosidade. Terá sido este o filme que Ian Curtis viu antes de se suicidar e é interessante o paralelismo que se pode estabelecer entre Curtis e Stroszek. Curtis suicidou-se uns dias antes de iniciar a primeira tourné nos Estados Unidos, depois de ver um filme sobre alguém que vai para América à procura de muito e não encontra nada. Interessante, tão só...

Vale a pena ver a ingenuidade de Bruno, a alienação de Scheitz e o oportunismo de Eva, à deriva por um mundo que não foi feito para eles e não lhes reserva o melhor dos desfechos. O final tem tanto de extasiante como de bizarro, mas é bonito, naquilo que parece ser uma metáfora, das mais bem conseguidas na história do cinema.

Herzog no seu melhor!

segunda-feira, novembro 06, 2006

"Qu'est-ce le cinéma?"

Que me perdoe o Senhor Bazin pelo impropério, mas de facto a coisa tem alguma lógica...
Este ano deu-se um passo em frente no debelar da crise dos cinemas portugueses. Parece que foram mais 500 mil espectadores às salas do que no ano anterior. Se as salas com "miles e tais" lugares já sabemos nós que estão condenadas ao abandono; e se sabemos também que os "hipermercados -sala de cinema" são uma perfeita anormalidade (vg. Alcochete), passamos agora a saber que os "king card's" e afins; os ecrãs grandalhões ao ar livre com bancadinha de futebol e oferta de pipoca e cobertor (que é como quem diz, dá p'ra fome e dá p'ra queca); e os festivais de cinema urbanos (indie's, doc's, imago's e afins) podem trazer gente ao cinema.

É esquisito gostar de cinema e não ir ao cinema... parece-me..., mas até eu passo tempos sem lá ir. As pessoas hoje são preguiçosas..., são luxuosamente preguiçosas... É preciso que o conceito seja diferente para sairem de casa. As "salas de miles e tais" eram para o tempo em que a televisão se via na casa de um vizinho a pagar um tostão e a rádio não tinha imagem...

Hoje há tanta dispersão...

É esquisito...

Será que um dia as salas vão estar assim?:


sábado, novembro 04, 2006

The Graduate

The Graduate (tcc "A Primeira Noite") é mais uma obra prima do cinema da "Nova Hollywood" e porventura um dos melhores filmes de sempre, com lugar cativo no "Olimpo" do universo fílmico.

Realizado em 1967 por Mike Nichols, este filme retrata a história de Benjamin, um jovem abastado de 21 anos, mas bastante inexperiente, encarnado por Dustin Hoffman naquela que é mais uma das suas brilhantes performances.

Benjamin sempre seguiu os caminhos certos, sempre fora um aluno brilhante, pese embora estrangulado pela vontade dos seus pais de quem era filho único. Mrs. Robinson é a mulher do sócio do seu pai, a típica "quarentona" desiludida... Podia ter sido alguém por si, podia ter estudado, mas teve uma filha, Elaine, e isso impediu-a de ir mais além.
Vejo neste filme a dicotomia amor/paixão, levada ao extremo em cada um dos conceitos. Mrs. Robinson a mulher feita, atraente, despojada de preconceitos... Elaine a jovem frágil e delicada... É entre elas que Benjamin constrói o seu eu, a sua formação sexual, emocional, ao fim e ao cabo, a sua maturidade.
A realização é das mais perfeitas que vi até hoje. Pena é que Nichols esteja votado ao mesmo destino dos outros realizadores do Novo Cinema Americano e, desde os anos setenta, não faça nada digno de "The Graduate"... Excitei-me com "Closer", mas cedo me apercebi que foi uma mera excitação momentânea...

O plano em que Benjamin está com Mrs. Robinson fechado no quarto é já um ícone... "Oh God! Let me out!" Mas o que de mais perfeito se nota em "The Graduate" é a mestria de Nichols em mudar de cenário, aproveitando sempre um elemento do cenário anterior, a dada altura do filme. Não haveria melhor significante para a desorientação de Benjamin, simplesmente delicioso...

O filme faz já parte do imaginário de qualquer cinéfilo, seja pela mise en scène de Nichols, pela interpetação de Hoffman, pela fragilidade de Elaine, pela sensualidade fria de Mrs. Robinson, ou pela banda sonora de Simon and Garfunkel.

Para quando um novo "Novo cinema"? Para quando um Novo mundo que o permita? Recomenda-se o documentário "Easy Riders, Ragging Bulls" de Kenneth Bowser. Pena é que Nichols, Penn, Scorsese e companhia não nos possam dizer: "Hello darkness, my old friend, I've come to talk with you again"...

sexta-feira, novembro 03, 2006

V for Vendetta

Há muito tempo que não frequentava um clube de vídeo... Acabei por me lembrar que o meu cartão ainda existia e estava válido e, vai daí, toca de ir alugar o belo do filme...

Aluguei este "V for Vendetta", um filme de ficção científica que constitui o primeiro trabalho de realização de James McTeigue e cujo argumento é da autoria dos irmãos Wachowski, responsáveis pela trilogia Matrix.

Ao ler a sinopse na contracapa do dvd, reparei que os produtores tinham feito os possíveis para associar este filme aos Wachowski's e ao Matrix, talvez por objectivos comerciais. Confesso que gostei do primeiro Matrix, mas as duas sequelas são, para mim, pobres e mal estruturadas. Ainda assim arrisquei e, a final, não sei se ganhei ou perdi...

V for Vendetta é uma utopia negra, bem ao estilo de "1984" de Michael Radford. É curioso ver Jonh Hurt no papel de "Chanceler do mal", quando em 1984 o mesmo actor tinha interpretado o herói avesso à sociedade cibernética e funcionalmente instrumentalizada, mas não passa disso, de mera curiosidade.

A acção desenrola-se na cidade de Londres, tendo como pano de fundo uma Inglaterra entregue a um regime totalitário, visto como única salvação para os males a que o mundo estava, então, entregue... Falam-nos de vírus, de guerras biológicas, de restrição das liberdades individuais, etc. ... Enfim, lugares comuns a qualquer filme com esta temática que, se já estava esgotada entes de "V for Vendetta", neste momento apresenta-se definitivamente saturada. É este o grande pecado do filme, peca por falta de originalidade e não acrescenta nada de novo...

Temos o herói, os vilões e a menina bonita. Temos o futuro pintado de negro e a possibilidade de redenção estampada por ideais...

O filme é também político, dado que aborda a questão do terrorismo sob o ponto de vista inverso àquele a que estamos habituados. Neste sentido, um mergulho nas teorias que vêm os sitemas ocidentais como nefastos na sua organização política maquiavélica e um papel relevante atribuído ao terrorismo na libertação dos povos e, mais ainda, das pessoas...

As interpretações são medíocres... A primeira meia hora de filme está mal estruturada... A temática é corriqueira...

Em abono do filme diga-se apenas que, finda a primeira meia hora, a acção entra nos eixos e consegue, secundada por uma boa fotografia, proporcionar um entretenimento agradável, mas apenas isso...
Recomenda-se para um domingo à tarde, em que a capacidade neuronal não seja grande e a pachorra para ver um bom filme escasseie...