terça-feira, outubro 09, 2007

Acabou-se o Imago!

Acabou-se o fim de semana e chegou ao fim mais uma edição do Imago. No domingo ainda houve tempo para as curtas vencedoras e para quem teve cabeça para as ir ver... Segunda feira, no entanto, tudo estava igual ao "antes"... A terrinha deixou de parecer cidade, os rostos que se viam eram os mesmos de sempre,... enfim, a rotina voltou ao normal...

Este ano aproveitei melhor o Imago que no ano anterior! Vi mais filmes, foi mais calmo... Devo dizer que não vi nenhuma sessão da competição internacional... Não gosto de curtas, acho-as interessantes para que jovens realizadores aprendam a fazer cinema, tão só... De resto, contar uma história em 5, 10, 15 ou 20 minutos parece-me uma tarefa irrealizável, restando apenas tempo e espaço para desenvolver uma ideia única...

Tenho pena de não ter ido ver "Inland Empire" no sábado, mas às três da tarde, depois de uma noite como a de sexta, seria sempre muito difícil...

De resto, na quarta feira afastei-me da secção "Stop Making Sense" para ver um "FILME"! Uma revisita a "Odete" de João Pedro Rodrigues.

Se o cinema Português dos últimos anos tem ganho novos espaços e novos públicos, muito por culpa de filmes como "Alice", "Adriana", "A Costa dos Murmúrios" ou "Coisa Ruim", apenas para referir alguns nomes, "Odete" é mais um belo exemplo de como levar gente ao cinema para ver histórias diferentes, pondo a sílaba tónica na qualidade fílmica, sem descurar, no entanto, o sucesso comercial.

A história de "Odete", perdida num emaranhado de pulsões e disfunções, acaba por conduzir a uma ideia simples, a ideia da busca do amor, da carência afectiva do ser humano, das fraquezas que se sentem perante a "perda" de alguém, seja esse alguém vivo ou ainda por nascer...

É muito bonita a fotografia em "Odete", bem como a banda sonora, sempre bem encaixada na narrativa. Sabe bem a revisita a "Breakfast at Tiffany's", com "Moon River" a fazer as delícias de qualquer cinéfilo.

Um único senão relativo ao desempenho dos actores. Ana Cristina Oliveira está quase sempre bem, o mesmo não se podendo dizer de Nuno Gil que, desde início, exceptuando raros momentos, encarna o personagem com doses excessivas de artificialidade...

Quinta feira vi o meu último filme desta edição do Imago. Voltei à secção "Stop Making Sense" para assistir à projecção de "Brava Dança", o documentário sobre os "Heróis do Mar".

Achei interessante o documentário, sobretudo por desvendar a história de uma banda com a qual cresci e sobre a qual pouco sabia... Lembro-me dos excêntricos Heróis do Mar e das suas incursões em programas de televisão da década de 80, lembro-me de "Amor" e "Paixão", mas não conhecia muito mais além disso...

Descobri uma banda com sérias preocupações estéticas e musicais, num Portugal fechado e "pequeno", talvez pequeno de mais para ideias tão arrojadas...

"Brava Dança" é mais um tributo à geração de 80 e à vontade de fazer muito onde existia muito pouco. Vale a pena ver e ouvir os "Heróis do Mar", lembrar o Portugal que tivémos e constatar os esforços que se fizeram para alcançar o Portugal de hoje!

quarta-feira, outubro 03, 2007

"Stop making sense"

Durante estes dias de Imago tenho aproveitado a secção "Stop making sense", com vários documentários a rodar no "Delta open space" e direito a entrada gratuita.
Na segunda feira vi o filme "Glastonbury" de Julien Temple. O filme é um documentário acerca do festival sobejamente conhecido no Reino Unido e por esse mundo fora. Cruzam-se imagens dos primeiros anos do festival com outras mais recentes, na tentativa de explorar aquilo que, tendo começado como um acontecimento "hippie", gradualmente se foi transformando num fenómeno de massas, com todas as vicissitudes comerciais que, a isso, estão adstritas.

De imediato estabeleci um paralelismo entre este filme e outro que já tinha visto há algum tempo, "Woodstock, 3 days of peace & music", realizado por Michael Wadleigh em 1970. Desse paralelismo resulta uma apreciação aplicável a ambos: São filmes chatos, repetitivos, de enredo circular... Uma hora de cortes e a coisa até poderia ser agradável e evitar o bocejo...

Ontem voltei ao "Delta open space" para ver "American Hardcore The History of American Punk Rock 1980-1986". Apesar de não me rever no fenómeno descrito no documentário, devo dizer que foi o melhor que vi até agora neste Imago 2007.
O filme conta a história do "hardcore" americano, das suas raízes, dos seus fundamentos... Com uma estrutura documental, aborda-se a América do recém eleito Regan, uma América voltada para um passado superficial, apostada em retornar a moldes hegemónicos dos anos 50, cheia de futilidades e homogeneizada por ideias nacionalistas e conservadoras. Neste clima de amorfismo, surgem uma série de indivíduos verdadeiramente anarcas e intransigentes, para os quais as regras não existiam, vivendo sem objectivos muito claros, a não ser a assunção de um grito de revolta, contra tudo e contra todos...

O resultado é a criação de um movimento baseado, pura e simplesmente, na adrenalina! Os "punk rockers" americanos detestavam os Sex Pistols e tudo o que tivesse origem em atitudes, para eles, decadentes. Apelidavam Sid Vicious de "junkie" e perconizavam um estilo de vida "straight edge", com abstinência de drogas, alcóol e sexo casual, apimentado, aqui e ali, com laivos de violência gratuita...

Apesar de ser muito difícil a qualquer pessoa do mundo de hoje identificar-se com estes valores, é sempre interessante conhecer a história de um movimento deste género, bem como as causas que o originaram. Por estas razões, "American Hardcore" é um filme a não perder para qualquer pessoa que se interesse por música e pelo conhecimento de fenómenos "underground".