quinta-feira, abril 23, 2009

Estado deste blog

quarta-feira, abril 15, 2009

Charlton Heston na RTP

Não sei se a RTP anda a fazer um ciclo dedicado ao Charlton Heston, embora tenha visto recentemente 3 filmes desse odioso defunto na estação pública.
Sobre "Ben Hur" não vou falar, até porque, de tanto o ter visto, à semelhança da maioria das pessoas, pouco haverá a dizer sobre o filme. É daqueles lugares comuns cine-televisivos, que passam ano sim, ano sim, no grande ecrã. O processo é simples, uma pessoa vai-se acomodando e prendendo paulatinamente os olhos à caixinha (até porque os dias santos têm de fazer algum sentido para quem não almeje a santidade e tão pouco acredite nela...) sendo que, ou está com sono e adormece, ou não está com sono e papa aquilo mais uma vez...

Adiante...

Vi também "55 dias em Pequim", realizado em 1963 por Nicholas Ray. Este filme foi o último realizado por Nick Ray e inseriu-se num contrato de três filmes para o ganancioso produtor Samuel Bronston, que seriam rodados em Madrid. Segundo se conta, Ray terá adoecido a meio da rodagem do filme, pelo que o seu verdadeiro realizador, responsável pela maioria do filme, terá sido Guy Green, um director de fotografia britânico.

Sobre "55 days at Peking", algumas palavras do próprio Nick: "É-me doloroso falar deste filme. Lembro-me que, uma noite, acordei e disse à minha mulher: Alguém ou alguma coisa veio ter comigo e disse-me que se eu fizer este filme nunca mais faço outro."

Palavras proféticas as do realizador, visto que a sua atribulada carreira em Hollywood, que começara 15 anos antes com "They Live by night", teria mesmo aqui o seu ponto final. Depois deste filme, apenas uma co-realização com Wim Wenders (Lightning over water), em que o papel de Ray é mais o de um actor do que o de um realizador propriamente dito.


"55 dias em Pequim" é uma espécie de épico à Hollywood, que retrata um período da história Chinesa marcado pela revolução dos boxers, caracterizados como uma espécie de seita de assassinos. Aliás, é interessante a perspectiva colonial em que o filme assenta, quase dando a entender ao espectador que a defesa da presença dos "quase colonizadores" estrangeiros na China é um feito capaz de evangelizar o maior dos exploradores. Dizer sobre este assunto que Heston assenta bem no papel, ele que em vida lutou pelo "glorioso" direito dos americanos a terem uma arma, essa causa nobre e fulcral ao progresso da humanidade... Perguntar se Heston foi um homem ou um homúnculo seria quase tão interessante como discutir o Ben-Hur, pelo que ora não se entrará por esse caminho...

Anteontem, um outro filme com o senhor Heston no papel principal. Foi um filme que me chamou a atenção desde início. Gosto da temática das utopias negras e "Soylent Green", ou "À beira do fim", de 1973, parecia ser o ideal para um serão em que as insónias batiam à porta. A narrativa inicia-se num cenário apocalíptico, com recolheres obrigatórios e um planeta, na segunda década do terceiro milénio, em que o calor nas ruas e a escassez de recursos transformavam o mundo num lugar hediondo. O filme tem uma estética muito 70's, com música funk intercalada, bem ao estilo de Shaft e dos seus congéneres. Heston, é um polícia que tenta desvendar um crime, cujo cerne estaria associado a um negro destino da humanidade. Depois, os já habituais clichés das utopias negras, tais como comida em barras, ausência de plantas, governos dirigistas, e escassez de produtos.

O que me desagradou essencialmente em "Soylent Green" foi a contrução da narrativa, com nítidas falhas lógicas. Polícias que investigam em locais obscuros sob pressão e têm todo o tempo do mundo para fazer o que quer que lhes dê na veneta; indivíduos que levam tiros no peito, sobrevivem e passado um minuto já correm velozmente, bem como um sem número de mágicas proezas com as quais o cinema americano tem o hábito de nos brindar. Para mais, o fim, que não conto por respeito ao leitor mais destemido, é daqueles que dá vontade de dizer: "O quê, tanta coisa para isto?"

Em suma, para mim "Soylent Green" é daqueles filmes que prende o espectador ao ecrã, pela sua temática interessante, deixando simultaneamente um amargo na boca a cada minuto que a narrativa se vai desvendando.

De qualquer forma, parabéns à RTP pelo esforço de transmitir filmes menos conhecidos das gerações mais jovens, porque, se sofrer de insónias já é mau, não ter como as ocupar seria bem pior...

quinta-feira, abril 09, 2009

Che

Visionados Che-O Argentino e Che-Guerrilha, cumprirá fazer uma análise do que se viu.
Dizer, em primeiro lugar, que Soderbergh filma bem e consegue fazer cinema de planos, em que os mesmos, via de regra, bastam para a definição de personagens através de instantes. Dizer também que as cores escolhidas trazem ao filme uma ambiência excepcional que, no entanto, aliadas a um ritmo cadente, tornam o filme um tanto ou quanto soturno e monótono. Acrescentar apenas que Del Toro é um actor à medida do personagem encarnado.

Sobre o conteúdo em si, sabendo de antemão que o filme se baseia em diários do próprio Che e que, para a sua elaboração, Soderbegh iniciou um longo processo de recolha em que entrevistou várias pessoas que o conheceram, caberá analisá-lo como biografia de um personagem histórico. Neste âmbito, penso que à parte inicial do filme faltou o "prenunciado argentino", ou seja, aquilo que Che fora antes de se tornar um revolucionário, uma verdadeira explicação do móbil que o arrastou para as causas que o tornaram célebre. Há episódios que são relatados com excessiva profundidade onde ela seria desnecessária, nomeadamente partes da guerrilha Cubana e as intervenções de Che nas Nações Unidas e há outros, como a infância de Guevara e a sua incursão pelo Congo, que são completamente descurados...

Já outros escritos de Che Guevara tinham sido adaptados ao cinema por Walter Salles, em "Diários de motocicleta", um retrato de uma viagem de Che pela América do sul. Aqui, sim, vemos um pouco daquilo que fora "Che o argentino", um jovem que viajou pelo seu continente e a criação daquele que viria a ser um cidadão "pan-americano".

Faltou, em minha opinião, um retrato da infância de Guevara, capaz de explicar o que fora Ernesto antes de iniciar a sua luta e quais as razões que o levaram a nela se envolver. Para mais, muitos dos episódios associados à história Cubana foram desprezados, nomeadamente a enigmática morte de Camilo Cienfuegos, bem como a caracterização e biografia deste personagem, como de muitos outros. O próprio papel de Fidel na revolução e as sua relação com Che é menorizada. Che é, portanto, um relato histórico impreciso e incompleto, pelo que caberá fazer a pergunta: Porquê 4 horas de filme?

Ainda assim, são dois filmes que, na minha opinião, embora incompletos, valem a pena, especialmente Che-Guerrilha, um arrebatador retrato da Natureza humana e a explicação de que a revolução apenas pode ocorrer onde é desejada por um povo e não apenas por um revolucionário. A vida tem destas coisas, há povos que nasceram para ser oprimidos e gostam de vestir esse papel...

sexta-feira, abril 03, 2009

Audrey Hepburn

Na semana passada furtou-se cordialmente à progenitora o objecto ao lado, que inclui os títulos Breakfast at Tiffany's, Funny Face, Paris When It Sizzles, Roman Holiday, Sabrina e War & Peace.
Conclusões a retirar do que se viu e reviu:

1ª- O Moon River e as nostálgicas espreitadelas nas montras de ourivesaria são a jóia da coroa. Filme sempre escorreito e agradável de ver!

2ª- Aquela sequência de dança no clube em Paris mostra-nos uma actriz multifacetada que, apesar de ser uma "Funny face", não se fica por aí. Adorável o passo de dança à Chaplin!

3ª- O filme com laivos de nouvelle vague esboçado como manifesto anti-nouvelle vague (pelo menos assim o vi) é curioso e intrigante. Sempre interessante ver o cinema a falar sobre cinema. Não conhecia...

4ª- O férias em Roma e o Sabrina entretêm dignamente, mas não passam de um agradável escape.

5ª - Esta versão do Guerra e Paz é pavorosa...

6ª- A elegância tem um nome e chama-se Audrey Hepburn, sem dúvida alguma!