quinta-feira, abril 09, 2009

Che

Visionados Che-O Argentino e Che-Guerrilha, cumprirá fazer uma análise do que se viu.
Dizer, em primeiro lugar, que Soderbergh filma bem e consegue fazer cinema de planos, em que os mesmos, via de regra, bastam para a definição de personagens através de instantes. Dizer também que as cores escolhidas trazem ao filme uma ambiência excepcional que, no entanto, aliadas a um ritmo cadente, tornam o filme um tanto ou quanto soturno e monótono. Acrescentar apenas que Del Toro é um actor à medida do personagem encarnado.

Sobre o conteúdo em si, sabendo de antemão que o filme se baseia em diários do próprio Che e que, para a sua elaboração, Soderbegh iniciou um longo processo de recolha em que entrevistou várias pessoas que o conheceram, caberá analisá-lo como biografia de um personagem histórico. Neste âmbito, penso que à parte inicial do filme faltou o "prenunciado argentino", ou seja, aquilo que Che fora antes de se tornar um revolucionário, uma verdadeira explicação do móbil que o arrastou para as causas que o tornaram célebre. Há episódios que são relatados com excessiva profundidade onde ela seria desnecessária, nomeadamente partes da guerrilha Cubana e as intervenções de Che nas Nações Unidas e há outros, como a infância de Guevara e a sua incursão pelo Congo, que são completamente descurados...

Já outros escritos de Che Guevara tinham sido adaptados ao cinema por Walter Salles, em "Diários de motocicleta", um retrato de uma viagem de Che pela América do sul. Aqui, sim, vemos um pouco daquilo que fora "Che o argentino", um jovem que viajou pelo seu continente e a criação daquele que viria a ser um cidadão "pan-americano".

Faltou, em minha opinião, um retrato da infância de Guevara, capaz de explicar o que fora Ernesto antes de iniciar a sua luta e quais as razões que o levaram a nela se envolver. Para mais, muitos dos episódios associados à história Cubana foram desprezados, nomeadamente a enigmática morte de Camilo Cienfuegos, bem como a caracterização e biografia deste personagem, como de muitos outros. O próprio papel de Fidel na revolução e as sua relação com Che é menorizada. Che é, portanto, um relato histórico impreciso e incompleto, pelo que caberá fazer a pergunta: Porquê 4 horas de filme?

Ainda assim, são dois filmes que, na minha opinião, embora incompletos, valem a pena, especialmente Che-Guerrilha, um arrebatador retrato da Natureza humana e a explicação de que a revolução apenas pode ocorrer onde é desejada por um povo e não apenas por um revolucionário. A vida tem destas coisas, há povos que nasceram para ser oprimidos e gostam de vestir esse papel...

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