quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Itálicas considerações






























Há muito que venho afirmando que vejo a película de Marco Tullio Giordana como uma continuação da antecedente de Bertolucci. As razões são de ordem vária, principiando pela duração do filme. Afinal de contas, são poucos os filmes de seis horas que existem na história do cinema, retirando do lote as excentricidades cinemáticas do "casalinho" Warhol/Morrisey, que mais valia não terem sido vistas por ninguém, como aliás me parece que não o foram...
Mas existem outros pontos de contacto que me parecem evidentes. A narrativa histórica é comum nos dois filmes e, acaso do destino ou não (a mim parece-me que não), o relato da história italiana começa, em "La meglio gioventù", exactamente onde o mesmo acabara em "Novecento". Cem anos da história de um país, mais coisa menos coisa. Aliás, emende-se..., quase toda a história de um país que, enquanto tal, só se conhece desde o século XIX, não convirá esquecer.
A finalizar, outro argumento, para mim o mais relevante e que me parece ter sido o móbil de Tullio Giordana, alertando porém, que me parece um dado adquirido ter o mesmo visto a película de Bertolucci. São realizadores da mesma nacionalidade, naturalmente cinéfilos e informados. Mas dizia eu, esse argumento prende-se com a temática central do filme que, a meu ver, é não mais que a amizade. Marco Tullio Giordana tenta escapar às conclusões aventadas por Bertolucci aquando do final de Novecento, parece-me... Abordando a mesma temática, embora com um espectro bem maior e não somente baseado na "amizade a dois", tenta demonstrar a necessidade do "grupo", vendo nele as possibilidades que Bertolucci claramente não viu no seu "Novecento".

No entanto, é de epopeias que falamos, e nestas parece-me, o reducionismo à ideia central reduzirá naturalmente a abrangência das obras. Quis-se apenas salientar um aspecto, não mais. Dizer que Bertolucci é real e Giordana ideal, seria passar a uma análise que não me interessa fazer, antes contrariar...

2 comentários:

Rafael Costa (rafaferreirac@hotmail.com) disse...

Depois de ler este post, fiquei sem saber a real opinião do seu autor sobre o filme "La Meglio Gioventú" de Giordana. Considerações à parte, até porque o cinema é uma questão de paixão e cada um tem direito a emitir a sua opinião, cabe-me dizer que gostei do filme.

Como amante do cinema italiano desde sempre, este parece-me uma das melhores produções que vi ultimamente.

Posso ainda dizer que, embora já deva saber, esta foi uma produção idealizada e encomendada para televisão, pela RAI. Foi por iniciativa desta estação de televisão que, aquilo que seria uma mini-série de 6 episódios, passou a ser um filme de 6 horas!

Embora não costume apreciar maratonas deste tipo, devo dizer que este filme me agarrou desde o início. A qualidade da obra pode ser questionada, como disse anteriormente, todos temos esse direito, agora, a sua escolha para estar em Cannes, parece-me um sinal de que possui qualidades. Lamento que a considere uma continuação de 1900 mas, são opiniões...

Saudações cinéfilas.

Ursdens disse...

Rafael:

Acho que não me entendeu bem...

Gosto muito de "A melhor juventude" e considero-o um filme excelente, apesar de não ter artifícios cinematográficos por aí além... É um filme que, para mim, vale pela narrativa e pela sensibilidade da história.

Neste post, apenas tentei estabelecer um nexo entre o "1900" e "A melhor juventude", não querendo de forma alguma, com esse nexo, desvalorizar o segundo...

O filme recebeu de facto o prémio "un certain regard" em Cannes e, ao que pensava, teria mesmo passado na RAI como mini série...

Já agora, pergunto-lhe:

Já vio o novecento? Acha que o nexo que tentei evidenciar faz, para si, algum sentido?

Cumprimentos cinéfilos!