terça-feira, maio 30, 2006

Swimming pool

À primeira vista, uma história corriqueira... Uma escritora famosa, uma crise de meia idade, umas férias de descompressão... É assim que François Ozon arquitecta o pano de fundo deste filme, um thriller bem "sui generis" e cujo conceito não é muito usual. Com efeito, Ozon introduz uma cadência no explanar da narativa, sem que, contudo, haja vestígios de qualquer perda de ritmo na mesma.

As interpretações são superiores, sobretudo no que toca às duas actrizes, Charlotte Rampling, a escritora, e Ludivine Sagnier, a filha do editor, com quem a primeira acaba por, inesperadamente, passar as suas férias. A personagem de Rampling é, inicialmente, fria, distante e crua, quase que representando o paradigma da mulher de sucesso profissional e frustração pessoal. Ludovine Sagnier, por seu turno, encarna o papel de uma jovem rebelde e provocante, tendencialmente ninfomaníaca e com uma forma de encarar a vida descontraída e descomprometida, porventura até demasiado.

É do antagonismo entre estas duas personagens que se faz a primeira parte do filme, desabrochando, aquilo que começou por ser um atrito, numa relação de cumplicidade, retratando-se, de certa forma, um choque geracional. Rampling, a mulher feita e Sagnier a adolescente.

O filme é rodado num ambiente de intriga, que incute no espectador uma ansiedade constante em saber qual o desfecho dos acontecimentos. É um daqueles filmes que não se auto-enuncia nem denucia, mas diga-se, em abono da verdade, que o que mais seduz acaba por ser a personagem de Saignier, envolta numa constante aura de sedução e provocação, modelada por um enquadramento estético de nível elevado. A fotografia é feita de belíssimas composições que exploram a sensualidade de Saignier e do próprio local onde a acção se desenrola, o Sul de França.

A final, uma narrativa aberta que deixa um pouco a desejar. Não que a ideia de perturbar a linearidade narrativa seja uma má ideia "per si", tão só que, neste filme, deixa uma certa azia no ar. Faltou, porventura, o rasgo, que nem sempre acontece, valendo, mesmo assim, os cerca de cem minutos ao longo dos quais o filme se desenrola.