segunda-feira, abril 23, 2007

Intermezzo

Como vim viver para o interior, tenho aproveitado para me dedicar a um hobbie que, há muito, tinha esquecido - a agricultura!
Já há uma semana que não vejo um filme e começo a perguntar a mim mesmo se ando doente?
Espero que passe, ou que seja possível compatibilizar tudo o que quero fazer...
Vou amanhã passar uma semana a Lisboa e quero ver se vejo uns filmes, se aproveito o Indie e se tenho qualquer coisa para escrever a partir de Maio.
Pela minha parte, encerra-se o Projector do Sótão até ao próximo mês... Até lá!

sexta-feira, abril 13, 2007

"O estado das coisas"...

Ontem revi "Goodbye Lenin", a, ainda, mais recente longa metragem de Wolfgang Becker.

Sobre o filme não me alongarei em palavras, dado o revisionamento apenas ter servido para desfrutar, pela enésima vez, de alguns momentos de sobeja intensidade cinematográfica! Contra esta obra poder-se-á alegar ser ela demasiado fantasiosa, no que diz respeito ao abordar das personagens e ao encadeamento do enredo, por vezes, um tanto ou quanto, irreal... A favor da mesma, dir-se-á que não é de fantasia que se trata, mas sim de pura magia! Nem sempre o que desejamos é um "cinema-verité" e, por vezes, o cinema dá-nos sonho, ilusão, escapismo... Parabéns a Becker!

Na verdade, a razão que me leva a escrever este post é bem distinta da apreciação do filme em si. Tenho o filme em dvd, numa edição de colecionador, daquelas que estão cheias de preciosismos e maneirismos... Ora, qual o meu espanto quando, chegado ao final do filme, o genérico é cortado ao fim de 25 segundos...

Não basta já que na televisão acelerem os genéricos finais em fast foward (quando não os cortam mesmo), quanto mais fazerem-no em edições de DVD, de coleção ainda por cima?!?...

Exprimida a revolta por este "Stand der Dinge", resta-nos a certeza de que, ainda hoje, se fazem "fotografias" bem bonitas! Gosto desta Lara, é bem melhor que a do David Lean e do Pasternak!

domingo, abril 08, 2007

Mizoguchi e uma rua escura..






Mizoguchi sempre foi o meu realizador Oriental mais mal amado, não sei porquê, mas vi filmes de provavelmente mais de uma dezena de realizadores orientais antes de me dedicar à sua obra.. Quando me decidi então a "perder" tempo com um filme dele fiquei com um sabor estranho na boca, pareceu que o filme esteve sempre lá, mas nunca passou daí.. isto é, foi bom mas podia ter sido melhor.. O filme em questão foi Ugetsu Monogatari.. Além do mais sempre tive a impressão (se calhar errada) que a sua obra passava muito pelo drama histórico e apesar disso não ser mau só por si, nem sempre me apetece passar duas horas no Japão do século XVI!! É neste contexto que Akasen Chitai, ou a Rua da Vergonha (tradução livre do inglês), aparece na minha vida e transforma Mizoguchi (a par de Visconti) no meu próximo vício..

A história (simples) passa-se num bordel e relata o quotidiano das suas trabalhadoras enquanto o Japão discute a ilegalizaçao da prostituição no pós WWII.. Mizoguchi vai desvendando a pouco e pouco as razões que as levaram até aquela opção de vida ao mesmo tempo que aproveita para contextualizar a importância que a prostituição ainda tinha na cultura japonesa.. O filme não perde tempo a definir cada personagem e a escolher uma que tenha um papel principal, preferindo optar por se debruçar um pouco sobre os vários dramas pessoais e permitir assim ao espectador formar a sua própria ideia de como seria realmente a vida de uma prostituta no final dos anos quarenta. Digamos que a personagem principal do filme é a prostituição em si e o mundo na qual está inserida, mundo esse definido na soma dos vários quotidianos retratados..

Penso ainda que o filme consegue guardar uma distância suficiente de modo a não cair no erro que seria fazer o espectador olhar para elas como "umas pobres coitadas" sem outra opção de vida. Ainda que por vezes sejamos levados a identificar-nos com os problemas de umas, também somos levados a sentir uma certa repulsa pelos modos de outras. É aqui que Mizoguchi consegue o equilíbrio e se excusa a tomar partido e, do meu ponto de vista, consegue aguentar todo o filme, pois caindo para um lado ou para outro corria o risco de perder um filme e ganhar um panfleto..

Assumo pois que passar tanto tempo ao lado da obra de Mizoguchi terá sido um erro, mas garanto que é um daqueles que depresssa estarei disposto a corrigir..