domingo, outubro 08, 2006

A vida sonhada dos anjos

"La vie rêvée des anges" (tcc "A vida sonhada dos anjos"), de Erick Zonca. Um filme bem ao jeito francês, com a interpretação fenomenal de Élodie Bouchez e Natacha Régnier. Recordo a interpretação da primeira das actrizes em "Les roseaux sauvages" (tcc "Juncos silvestres") de André Téchiné, outra brilhante actuação aliada a um filme, também ele brilhante.

Em "La vie rêvée des anges" vemos a história de duas jovens solitárias, trabalhadoras, com sede de vencer, Élodie pelo seu esforço e Natacha, seja de que forma for... São amigas, vivem juntas e partilham tudo, ou quase tudo...

Élodie, que interpreta o papel de "Isa", é uma jovem sem grandes ambições. Gosta de paz, de calor humano... É experiente apesar da tenra idade, adaptável, uma verdadeira sobrevivente... Desde que passa a viver com Marie, interpretada por Natacha Régnier, cria uma quase obsessão acerca de uma antiga habitante da casa, que nunca conheceu e que se encontra em coma há já algum tempo... Nesta história parece procurar uma qualquer redenção, um qualquer suporte existencial, uma qualquer muleta...

Marie, pelo contrário, é ambiciosa. Procura o amor, mas procura também o sucesso... Apaixona-se, talvez, pelo homem errado e desta relação vai nascer parte da importância da história.

O filme vive do efémero, do quotidiano, do instante... Da conversa de café, do subir das escadas, do passeio de fim de tarde... Da coragem, da morte... Da amizade, da ternura, do amor... Da vida de milhões de "anjos", todos entregues a rotinas, todos caminhando sempre em frente, todos vivendo e desesperando por algo... Vive da urbe e da urbanide... É sobretudo um filme que, sem deixar de ser profundo e até denso em algum do seu conteúdo, respira uma frescura quase constante...

A câmara em mão está presente em quase toda a realização. O filme evoca, por isso, uma certa ambiência "Dogma95", sem contudo se render aos seus cepticismos estéticos... Prova disso é a excelente banda sonora, da autoria de Yann Tiersen, ele que depois nos veio oferecer as excepcionais bandas sonoras de dois, também excepcionais, filmes - "Good Bye Lenin!" e "Le fabuleux destin d'Amélie Poulain".

Com um argumento poderoso e tocante, aí está a película que arrebatou os Césars em 1999 e deslumbrara Cannes um ano antes. Um quase "road movie", ainda que sem estrada...

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