sábado, outubro 28, 2006

Vai atrasada mas aqui fica a homenagem!




Descobri com grande amargura que Sven Nykvist morreu faz hoje um mês e pouco..

Para quem não saiba quem é, Nykvist, além de ter trabalhado como director de fotografia para vários realizadores, como por exemplo Louis Malle, Roman Polanski, Paul Mazursky, Volker Schlöndorff, Peter Brook e Woody Allen, cooperou em grande parte da obra de Ingmar Bergman, trabalho esse que lhe granjeou fama e dois óscares (Cries and Whispers e Fanny and Alexander), além de variadíssimos outros prémios..

Aqui fica a minha sincera homenagem a um homem que influenciou o Cinema do século vinte e que deu luz e cor às ideias de Bergman..

Goodbye South, Goodbye

"Goodbye South, Goodbye" apresenta-se-nos como um exercício cinematográfico extremamente peculiar, não na história em si, mas na abordagem feita pelo realizador. É um filme repleto de pequenos pormenores deliciosos, quer no plano, quer na definição de personagem, e com um ritmo muito único. Esta talvez seja mesmo a sua maior peculiaridade, o ritmo. Através de longos planos em movimento (viagens de carro, comboio, mota) e de uma banda sonora muito forte o espectador é levado também, de certa maneira, a viajar.. Por outro lado a câmara é utilizada bastantes vezes para captar o mundo mimetizando os olhos das personagens, sendo disso exemplo o plano genial em que a namorada de Gao olha para ele através de uma bola de cristal ou quando Flatty vai servir à mesa com os óculos escuros a ouvir música altíssima.
A história propriamente dita gira à volta de dois gangsters, Gao e o seu irmão Flatty, e dos seus planos de enriquecimento rápido, assim como das suas expectativas e desejos.. O universo do filme fica completo com a família, os amigos e as namoradas dos dois (Ying e Pretzel) e a presença sempre constante da paisagem, seja ela Taipé ou não.. Num ambiente extremamente conflituoso mas quase melancólico (devido ao trabalho de câmara e luz) a vida das personagens, pouco compensatória e mesmo vazia, leva o espectador a sentir uma certa compaixão pelas "pobres criaturas" o que nos deixa com um certo sabor agri-doce no fim do filme..Depois de "Three Times" e "Puppetmaster", "Goodbye South, Goodbye" foi uma descoberta muito positiva, o que me leva a continuar o ciclo Hou Hsiao-Hsien com bastantes expectativas..

Welcome to the freak show!

Se a ideia de uma fábula perversa era algo de impensável, Todd Solondz conseguiu torná-la realidade no seu último filme! "Palindromes" é um autêntico murro no estômago, são cem minutos de pedofilia, violações, abortos e gente muito estranha, mas muito estranha mesmo!, e, para aumentar ainda mais o pasmo da coisa, é todo filmado numa autêntica atmosfera de conto infantil!!!

Tudo acontece quando Aviva (interpretada por uma mão cheia de actrizes), uma rapariga dos seus treze anos, cujo grande sonho é ter filhos, engravida e é obrigada a abortar pelos pais. Aviva decide então fugir de casa, na sua viagem cruza-se com algumas personagens tais como Joe, um camionista que depois de ter estado preso leva uma nova vida de "virtude" ou Mama Sunshine, uma mãe adoptiva de um sem número de meninos problemáticos. Essa viagem vai acabar por a levar de volta a casa, não sem antes ter contribuído, por exemplo, para o assassinato de um médico que fazia abortos, ou se ter apaixonado por Joe; uma sequência de eventos surreais... Mas é só perto do fim que Solondz nos explica a filosofia do filme: que o nosso carácter é definido na juventude e se mantém inalterado ao longo da vida, ou seja, podemos ter várias aparências (daí as várias actrizes no papel de Aviva) mas teremos sempre apenas uma idiossincrasia imutável. De encontro a esta ideia vem também o nome do filme, pois, tal como um palíndromo pode ser lido da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, também podemos olhar para a nossa personalidade de vários pontos de vista que ela será sempre a mesma! Concordando-se ou não, esta explicação vem trazer algumas respostas e dar algum sentido ao que até aqui parecia apenas ser uma galeria de horrores.. Falta apenas referir que o filme, apesar de tudo, acaba por ser uma comédia, pois ao espectador não é deixada outra hipótese que não rir-se de tudo e todos, sob pena de se sentir extremamente incomodado com o que se passa no ecrã, enfim, bem vindos ao universo doentio de Todd Solondz!

terça-feira, outubro 24, 2006

Novo membro

Anuncio a entrada de um novo membro no sotão. Esperamos por projecções.

O "Tuschinskitheater"

O cinema mais bonito de Amsterdão foi inaugurado em 1921. Mantem-se, desde então, em perfeito estado de conservação, evidenciando-se as características "art déco" da sua arquitectura e dos seus interiores.

O cinema tem a chancela da "Pathé", indústria fundada por Charles Pathé e que está intimamente associada à história do cinema.

Com efeito, Pathé criou a primeira grande indústria de filmes, produzindo, primeiramente, curtas metragens e passando, posteriormente, às longas metragens. Charles Pathé foi por isso um dos grandes responsáveis pela morte do "cinema-técnica", afirmando-se defensor da necessidade de história, de argumento: "E se o zé-povinho se fartar dessas coisas, de ver desfilar papalvos e bebés a papar o pequeno almoço?" (conversa de Pathé com Méliès).

Pathé era um visionário e terá inclusivamente dito, na primeira década do séc. XX, que "(...)o cinema será o teatro, o jornal e a escola de amanhã(...)". Em 1909 fundou o "Pathé Journal", publicação dedicada ao cinema.

Confesso que não fiz a visita guiada ao cinema (por ser às dez da manhã de domingo), apenas lá entrei para ver o interior do hall e, mesmo assim, fiquei deslumbrado. A sala de cinema original já não funciona como cinema, no entanto, ao lado, estão construídas novas e modernas salas de cinema. Estive quase para ir ver o "Volver", mas achei que não valia a pena ver um filme em Amsterdão que podia bem ver em Portugal e com legendas em português.
Resta aquele imaginário que nos percorre quando vemos um filme que começa com a chancela Pathé... é quase como ver o leão a rugir naqueles filmes "americanóides" da MGM...

terça-feira, outubro 17, 2006

Fechado para férias


Avisa-se que o blog vai estar parado uns dias. Vou até Amsterdão.


Dêm uma olhadela, também por lá há cinema.


segunda-feira, outubro 16, 2006

O Piano

O meu filme preferido!

“O Piano” foi realizado por Jane Campion em 1993. Ganhou a Palma de Ouro em Cannes e o Óscar de melhor argumento original, entre outros.

Ada e a sua filha Flora viajam da Europa para a Nova Zelândia em meados do século XIX. À sua espera está Alisdair, com quem a primeira se irá casar e que nunca conheceu. O casamento é, por isso, um quase negócio, bem ao jeito dos costumes vitorianos. Ada é muda e transporta consigo um piano que se assume como a voz que não tem.

Chegadas à Nova Zelândia, Ada e Flora conhecem Baines, uma espécie “europeu novazelandizado” que vive com os indígenas e que, com eles, se entende às mil maravilhas.

Alisdair é materialista, quase chauvinista e não vê a ideia do piano com bons olhos. Logo arranja forma de o vender a Baines em troca de terras. Toda esta situação vai originar um aproximar entre Ada e Baines que gradualmente se vai transformando em algo mais…

As intepretações, excepcção feita à de Sam Neill, são brilhantes… Holly Hunter assina, aliás, aquilo que me parece ser o papel da sua carreira.

A banda sonora é nayf, simples e de pouca elaboração. Michael Nyman não poderia ter estado melhor na escolha das ambiências musicais do filme, até porque Ada é isso, é uma apaixonada por um piano, pela delicadeza dos sons, não uma musicóloga erudita…

O filme é, todo ele, um acervo quase impressionista, aliás, se observarmos as fotos frame a frame, retiramos um sem número de Renoir’s ou Monet’s enquadrados numa paisagem exótica, com um ambiente britânico-colonialista.

A primeira vez que vi O Piano fiquei imediatamente cativado, mas fui aprendendo a gostar cada vez mais do filme, quantas vezes o via. Existem uma série de pormenores fascinantes que fui descobrindo ao longo dos tempos:

-O plano da chávena, uma readaptação da ideia de Godard e Carol Reed, a introspecção no copo, na imagem reflectida, nos veios do líquido mexido… Um pormenor semiótico dos mais interessantes no cinema, até por constituir já um significante puramente cinematográfico, de uma linguagem que se vai construindo “per si”.

-A cena do casamento, em que Ada tira uma fotografia com Alisdair num cenário artificial, como se de um palco de tratasse, entre duas cortinas… Finda a foto, Ada corre para dentro de casa e, ajudada por outras mulheres, despe o vestido, quase rasgando-o, como se, ao terminar a sua actuação, recolhesse aos camarins e se livrasse do guarda-roupa…

-A pequena animação introduzida em alguns frames do filme, quando Flora conta a história da perda de voz da sua mãe. Um símbolo da fértil imaginação infantil…

Poderia continuar indefinidamente, mas não o faço para não maçar… Fica o registo do meu “filme dos filmes”, tão só…

sábado, outubro 14, 2006

Hans Weingartner

Vou falar-vos um pouco deste realizador austríaco, residente em Berlim e, em especial, dos dois filmes que tive oportunidade de ver e que foram realizados por ele.

Weingartner é, de carreira, neurocirurgião, mas o homem que, a par de Becker, Wenders e Herzog, entre outros, eleva o cinema alemão aos píncaros da qualidade mundial, teve a primeira câmara de vídeo aos catorze anos e, desde aí, nunca mais a largou.

Confesso admirador de François Truffaut, este austríaco “germanizado” faz um cinema fresco, actual, jovial e, acima de tudo, com muita qualidade. Muito ajudado pelo seu aparente “alter-ego” cinematográfico, Daniel Brühl, Weingartner assume-se hoje como o estandarte daquilo a que chama um “novo cinema alemão”, distante da escola de Fassbinder e companhia, mas suficientemente ousado para ter merecido o reconhecimento de Cannes em 2004, tendo sido seleccionado para a competição.

Weingartner não é um céptico, não é um “academizado”… Nisso distancia-se da sua referência (Truffaut). Weingartner é nayf o suficiente, é esclarecido quanto baste e, como se não bastasse, constrói argumentos sólidos e elaborados. Usa, muitas das vezes, a câmara em mão, não faz dogma contudo, mas consegue imprimir nos seus filmes uma harmonia vívida e límpida.


O primeiro filme que vi realizado pelo austríaco foi “Das Weisse Rauschen”, cujo título original em português desconheço.

Lukas é um estudante alemão que, a dada altura passa a morar com a sua irmã Kati e o namorado. No meio de meia dúzia de charros e alguns copos a mais decidem experimentar cogumelos. Lukas não mais retorna…

Um dos melhores retratos acerca da esquizofrenia, fazendo inveja à elaborada, mas entediante resenha de Cronenberg, “Spider”, e ao vulgar “Uma Mente brilhante”, realizado por esse “hominídeo” cujo nome não me atrevo sequer a pronunciar…

A final, uma interrogação, bonita, sem dúvida, um indagar sobre o conceito de realidade, perigoso porém…

“Die Fetten Jahre sind vorbei”, com o título original em português de “Os Educadores”, é a segunda longa-metragem de Weingartner. Película de maior orçamento, teve também mais êxito e divulgação que a primeira. Um filme de comprometimento, com conotações políticas expressas.

Jan e Peter são dois idealistas, os “Jules et Jim” de Weingartner, que têm uma concepção original acerca do activismo de esquerda anti-capitalista. Desenvolvem várias acções encobertas, até que um dia, Jule, namorada de Peter, descobre o facto por Jan.

Jan e Jule fazem algo às escondidas de Peter e não tarda que as atribulações comecem… Sucede-se um rapto, um desentendimento, uma amizade, uma traição e uma convicção…

Este filme é uma pedrada na lógica sistémico-social das democracias dos dias que correm… Um grito de revolta, um manifesto político… Teme-se a ineficácia do manifesto, mas louva-se a intenção, a atitude e a voz…

Que mais a dizer de um realizador que, com trinta e seis anos e um percurso pela neurocirurgia, nos dá tantas razões para encarar o futuro do cinema como bem parado? Que mais a dizer de um realizador que consegue alcançar um público vasto, com ideias bem desenvolvidas e uma estética arrojada e contemporânea? Só espero que o próximo filme que está a fazer, “Free Rainer”, não seja um retrocesso na qualidade e originalidade do seu trabalho ou, se o for, pelo menos que sirva apenas para assegurar o financiamento da liberdade criativa que merece.

Por aqui me fico…

quinta-feira, outubro 12, 2006

Imago 2006

Decorreu, na cidade do Fundão, de 30 de Setembro a 8 de Outubro, a 7ª edição do Festival Internacional de Cinema Jovem do Fundão, mais conhecido por “Imago”.

O festival é um evento multidisciplinar que começa a criar raízes, sedimentando-se como um dos festivais de cinema mais importantes a nível nacional e internacional dentro do género. É também uma lufada de ar fresco na “ostracização” cultural a que o interior do país parece infelizmente estar condenado.

No festival de cinema, propriamente dito, existem vários eventos, tais como a competição internacional , a competição “under 25“, o “Docs in shorts” e um capítulo chamado “Early years”, dedicado à mostra dos primeiros trabalhos de realizadores conceituados, entre outros (este ano foi Clint Eastwood, mas já foram mostradas retrospectivas do trabalho de, designadamente, Scorsese e Terry Gilliam em anos anteriores).

O Imago 2006 teve, este ano, uma temática diferente e especial intitulada “Da nona à sétima Arte – Para Além dos Super-heróis”, focando o intercâmbio entre a banda desenhada e o cinema. Projectou-se a obra de Dave McKean e Alejandro Jodorowsky.

Aliado ao festival de cinema existe também o “Sound & Vídeo Experience”, evento audiovisual onde podemos assistir a um sem número de concertos e Dj sets. Por aqui já passaram nomes como Kid Loco, Erlend Oye, Andy Votel, David Holmes, Kid Koala, Alex (das Chicks on Speed), entre outros…

Este ano, para minha desgraça, só pude estar presente no dia 30 de Setembro. De cinema não vi nada. Assisti ao concerto de “El Perro del Mar” e aos Dj set’s que se seguiram. Gostei, gostei muito…

O festival passou a ter uma nova casa, equipada a preceito (a antiga moagem do Fundão), embora este ano ainda funcionasse a meio gás… O edifício pouco conserva do original, à excepção das fachadas e de uma chaminé, mas, ainda assim, é uma excelente obra, que dota o festival de instalações à altura, capazes de dar continuidade ao projecto.

Os vencedores deste ano foram:

Competição internacional: “Rabbit” de Run Wrake
Prémio do Júri: “The Kiss” de Toma Waszarow
Prémio de melhor realizador: “Antonio’s Breakfast” de David Mulloy
Doc’s in shorts: “Never like the first time” de Jonas Odell
Competição “under 25”: “Sports & diversions” de Bum Lee
Prémio melhor filme nacional: “Morrer” de Diogo Camões
Prémio do Público: “Medianeras” de Gustavo Taretto

Com todos estes aperitivos, existem razões de sobra para visitar o festival e a cidade do Fundão que, durante o acontecimento, se transforma numa “Meca” dos amantes do cinema, da música e da cultura urbana.


Para mais informações: http://www.imagofilmfest.com/

terça-feira, outubro 10, 2006

Ma mère

A primeira vez que vi este filme deve ter sido há já dois anos. Vi-o no cinema Monumental, pouco tempo depois de estrear em Lisboa, com uma amiga. A sala era por si já bastante pequena, o número de espectadores iniciais era à volta de vinte e, no final do filme, só cerca de dez permaneciam, dado que os outros foram saindo a meio, impressionados com algumas cenas e até com o argumento do filme, pesado digamos...

Eu próprio, ao sair do cinema, não conseguia dizer uma única palavra à minha amiga, nem ela a mim... Lembro-me que fomos a pé, desde o Saldanha até ao Bairro Alto, durante cerca de vinte, vinte cinco minutos, sem conseguir soletrar o que quer que fosse...

É, em primeiro lugar, um filme audaz, chocante, perturbador, perverso, interrogativo e até um pouco incómodo. Um filme amoral, parece-me, que não tenta valorizar, mas tão só descrever, mostrar, interrogar...

O argumento é soberbamente adaptado por Christophe Honoré de um romance de Georges Bataille e versa a história de cumplicidades entre um filho e uma mãe que, a princípio, mal se conheciam e, a final, acabariam por partilhar muito...

Louis Garrel interpreta Pierre, jovem que se inicia no despertar para a sexualidade, orientado e até incentivado pela sua mãe, Hélène (Isabelle Huppert). Desta relação vai surgir um despertar de recalcamentos, de pulsões escondidas e perigosas. O final é surpreendente, mas choca, na toada de todo o filme.

De Isabelle Huppert nada se pode dizer em qualquer circunstância. Está sempre bem, sempre melhor que os outros, sempre quase perfeita. Para mim a melhor actriz da actualidade, já desde há alguns anos. A melhor interpretação que lhe vi foi em "Malina" de Werner Schroeter, tem um dramatismo inato, é soberba...

Já Louis Garrel é uma confirmação absoluta! Esteve bem nos "Sonhadores" de Bertolucci, continuou em bom nível neste "Ma mère" e sedimentou a sua posição como uma das maiores esperanças da interpretação europeia em "Os amantes regulares", realizado pelo seu pai, Philippe Garrel.

Argumentos de peso para ver este filme, necessário no entanto um grande espírito de abertura e tendência para simplesmente observar, sem valorizar.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Caché

Um filme soberbo, bem ao estilo do realizador austríaco Michael Haneke. Crú quanto baste, usando uma excelente composição, aliada a um brilhante ritmo da acção, diferente, contudo, do thriller habitual...
Um filme sobre o sentimento de culpa, dos homens e das nações, mesmo as mais antigas, habituadas ao epíteto de civilizadas... Nesse sentido, também um filme político, em que se culpabiliza a França no que toca à integração dos emigrantes, neste caso os Argelinos.
Em "Caché" deparamo-nos com um thriller sobre os medos, as suspeições, as desconfiaças e as inquietações que alguns erros do passado nos provocam..., ou não...
No final, um capricho de Haneke, um presente ao cinéfilo, uma metáfora rebuscada. O peso do passado, a necessidade de redenção, a ideia de que a justiça se faz por ela mesma, que a justiça dos homens é feita por eles... Atenção aos pormenores do genérico final...

Vale a pena ver este último filme do realizador de, entre outros, "Funny Games" e "A Pianista", mais não adianto, vejam...

domingo, outubro 08, 2006

A vida sonhada dos anjos

"La vie rêvée des anges" (tcc "A vida sonhada dos anjos"), de Erick Zonca. Um filme bem ao jeito francês, com a interpretação fenomenal de Élodie Bouchez e Natacha Régnier. Recordo a interpretação da primeira das actrizes em "Les roseaux sauvages" (tcc "Juncos silvestres") de André Téchiné, outra brilhante actuação aliada a um filme, também ele brilhante.

Em "La vie rêvée des anges" vemos a história de duas jovens solitárias, trabalhadoras, com sede de vencer, Élodie pelo seu esforço e Natacha, seja de que forma for... São amigas, vivem juntas e partilham tudo, ou quase tudo...

Élodie, que interpreta o papel de "Isa", é uma jovem sem grandes ambições. Gosta de paz, de calor humano... É experiente apesar da tenra idade, adaptável, uma verdadeira sobrevivente... Desde que passa a viver com Marie, interpretada por Natacha Régnier, cria uma quase obsessão acerca de uma antiga habitante da casa, que nunca conheceu e que se encontra em coma há já algum tempo... Nesta história parece procurar uma qualquer redenção, um qualquer suporte existencial, uma qualquer muleta...

Marie, pelo contrário, é ambiciosa. Procura o amor, mas procura também o sucesso... Apaixona-se, talvez, pelo homem errado e desta relação vai nascer parte da importância da história.

O filme vive do efémero, do quotidiano, do instante... Da conversa de café, do subir das escadas, do passeio de fim de tarde... Da coragem, da morte... Da amizade, da ternura, do amor... Da vida de milhões de "anjos", todos entregues a rotinas, todos caminhando sempre em frente, todos vivendo e desesperando por algo... Vive da urbe e da urbanide... É sobretudo um filme que, sem deixar de ser profundo e até denso em algum do seu conteúdo, respira uma frescura quase constante...

A câmara em mão está presente em quase toda a realização. O filme evoca, por isso, uma certa ambiência "Dogma95", sem contudo se render aos seus cepticismos estéticos... Prova disso é a excelente banda sonora, da autoria de Yann Tiersen, ele que depois nos veio oferecer as excepcionais bandas sonoras de dois, também excepcionais, filmes - "Good Bye Lenin!" e "Le fabuleux destin d'Amélie Poulain".

Com um argumento poderoso e tocante, aí está a película que arrebatou os Césars em 1999 e deslumbrara Cannes um ano antes. Um quase "road movie", ainda que sem estrada...

sábado, outubro 07, 2006

Livros sobre cinema

Em primeiro lugar, escandaloso! Estou frustrado, endiabrado, fustigado, enfadado e mesmo irritado! Não é que seja tão má assim a notícia, mas a verdade é que perdi horas da minha vida a ler um livro em inglês quando o poderia ter lido, caso esperasse um ano e picos, em português, poupando muito tempo e ficando com uma noção muito mais precisa da informação.
Para quem ainda não leu, recomenda-se. "Biografia do Filme" de Mark Cousins, a "bíblia do cinema", dada agora à estampa em tradução portuguesa.



Ora, se ao primeiro livro chamei a "bíblia do cinema", a este segundo chamo-lhe a "bíblia do universo fílmico"...

Pois é, finalmente! Finalmente a reedição de "A linguagem cinematográfica" de Marcel Martin, livro publicado pela primeira vez, em França, em 1955 e cuja edição traduzida em português estava esgotada há já algumas décadas...

Num campo em que não são muito frequentes as publicações de peso, muito menos traduzidas para português, surge esta nova tradução, feita a partir da versão revista e aumentada, editada em França em 1985, com a colaboração de Olivier Barrot.

A tradução é de Lauro António e de Maria Eduarda Colares. Deixo alguns excertos do prefácio da autoria de Lauro António:

"A primeira edição francesa desta obra surgira em 1955, esgotara com rapidez, e constituíria obviamente um êxito editorial, mas fora sobretudo um grande triunfo de um público cinéfilo jovem, que inrrompia com a força de um vulcão um pouco por todo o mundo, sobretudo na Europa e particularmente em França, com o aparecimento da Nouvelle Vague (...)"

"Esta obra transformou-se um pouco na bíblia dessa juventude ávida de compreender o cinema e de o conceber criativamente."

"(...) livros como este de Marcel Martin tinham o dom de ensinar a ver os filmes, o que era por essa altura (e ainda hoje) a melhor forma de se aprender a gostar de cinema (...)"

"Durante muitos anos a edição portuguesa esteve esgotada e era impossível encontrá-la, nem sequer em alfarrabistas. Quem tinha um exemplar guardava-o ciosamente (eu nem por isso, dado que emprestei há muito o meu a alguém que o decidiu guardar ciosamente) (...)"

sexta-feira, outubro 06, 2006

Não tem havido tempo...

Já lá vai um tempinho desde que aqui não escrevo, não porque não tenha visto filmes, mas, na verdade, escrever crítica com regularidade dá muito mais trabalho do que pensava...
Sendo assim, prefiro ir escrevendo umas coisas, umas deambulações por aqui e por ali... Pode ser que, numa outra altura, com mais tempo e mais cabeça, escreva novamente crítica...

Não tenho visto muitos filmes, os afazeres não me deixam... Tenho visto filmezitos, alguns... Aqueles de domingo à tarde... Troias e Alexander's e afins... A propósito de Alexander, onde anda a cabeça do Oliver Stone?!?!? Vendeu-se?, tomou o mesmo caminho do Coppola e fritou? Não entendo, francamente?!...

Fui ver o "Les Amants Reguliers" ao King. Nunca tinha visto nada de Garrel "pós Nico"... Gostei de alguns pormenores, mas no geral achei o filme medíocre. Eram cinquenta ou sessenta tesouradas, uma hora de corte e o filme talvez valesse a pena... Marcante, só o plano em que acompanha o actor sempre de costas, focando as atenções no outro actor com quem este primeiro contracena. Parecia a reinvenção da ideia de Godard, vista entre outros em "Pedro o Louco", mas desta feita com um movimento de câmara caótico. A fotografia, essa sim, brilhante!


Vi o Straw Dogs. Imperdoável não é?, ainda não ter visto... Fiquei deslumbrado, cada vez sou mais doido por cinema da nova hollywood... Os americanos nunca fizeram nada que preste em termos de movimento, mas este cinema dos anos setenta..., ai que até me arrepio...
O filme é óptimo, crú, semelhante a "taxi driver" em muitos aspectos... E o Dustin Hoffman, notável!, para mim o melhor actor americano vivo!

Assim me despeço, vou dando notícias.