quarta-feira, maio 21, 2008

Haverá Sangue

Ainda não tinha visto "There Will Be Blood"... Vi ontem.
É engraçado ver um filme que quase poderia ser um clássico mas que, alicerçando-se nas ideias do antigo cinema americano, as usa para destruir aquilo a que muitos chamam o "nascimento de uma nação"...

Tinha medo de ir ver o filme... Ouvi dizer várias vezes que este era mais um "filme de actor" do que um "filme de autor"... E até concordo em certa medida... Daniel Day-Lewis é magnânimo!!! Mas não é só dele que se faz o filme...

É interessante ver um americano (Paul Thomas Anderson) debruçar-se sobre este tema tão provocador... A urgência do dinheiro e do poder / a capacidade destrutiva do mesmo... Interessante é também pensar que, num filme com esta temática feito nos anos 40, sairíamos do cinema a louvar o espírito empreendedor, o trabalho e a dedicação. No entanto, ao sair da sala de cinema onde rodou "There Will Be Blood", o espectador não pode fazer mais do que interrogar-se acerca dos malefícios da obsessão pelo poder e pela riqueza e dos prejuízos que esta pode trazer...

Daniel Plainview (Day-Lewis) esquece tudo..., põe tudo de parte..., não ama nada nem ninguém... Está cego!
Achei arrebatador o momento em que, por uma fracção de segundos, o filme viaja desde o frenesi sonoro até ao absoluto silêncio... Aquele momento em que a mudez de H.W. se transforma num derradeiro silêncio, como se nada à sua volta existisse com sentido...


O cinema de Anderson é sempre um constante desafio às "pulsões Holliwoodescas", um esgrimir de argumentos perante a decadência de uma civilização que se alicerça em "nada" para se afirmar omnipotente... Há uma linha "autoral", não duvido disso...


Um reparo à "estática" banda sonora, capaz de fazer o espectador cair no abismo para realçar momentos chave no filme. Muito original, característica até.


"There wil Be Blood" é um filme nada ortodoxo, em que os movimentos constantes de uma câmara dão aso a uma crítica flagelante aos "orgulhos de uma nação" e, só por isso, merece ser visto! Que o Anderson ande por aí muitos anos... Faz falta!

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