Hans Weingartner

Weingartner é, de carreira, neurocirurgião, mas o homem que, a par de Becker, Wenders e Herzog, entre outros, eleva o cinema alemão aos píncaros da qualidade mundial, teve a primeira câmara de vídeo aos catorze anos e, desde aí, nunca mais a largou.
Confesso admirador de François Truffaut, este austríaco “germanizado” faz um cinema fresco, actual, jovial e, acima de tudo, com muita qualidade. Muito ajudado pelo seu aparente “alter-ego” cinematográfico, Daniel Brühl, Weingartner assume-se hoje como o estandarte daquilo a que chama um “novo cinema alemão”, distante da escola de Fassbinder e companhia, mas suficientemente ousado para ter merecido o reconhecimento de Cannes em 2004, tendo sido seleccionado para a competição.
Weingartner não é um céptico, não é um “academizado”… Nisso distancia-se da sua referência (Truffaut). Weingartner é nayf o suficiente, é esclarecido quanto baste e, como se não bastasse, constrói argumentos sólidos e elaborados. Usa, muitas das vezes, a câmara em mão, não faz dogma contudo, mas consegue imprimir nos seus filmes uma harmonia vívida e límpida.

O primeiro filme que vi realizado pelo austríaco foi “Das Weisse Rauschen”, cujo título original em português desconheço.
Lukas é um estudante alemão que, a dada altura passa a morar com a sua irmã Kati e o namorado. No meio de meia dúzia de charros e alguns copos a mais decidem experimentar cogumelos. Lukas não mais retorna…
Um dos melhores retratos acerca da esquizofrenia, fazendo inveja à elaborada, mas entediante resenha de Cronenberg, “Spider”, e ao vulgar “Uma Mente brilhante”, realizado por esse “hominídeo” cujo nome não me atrevo sequer a pronunciar…
A final, uma interrogação, bonita, sem dúvida, um indagar sobre o conceito de realidade, perigoso porém…

Jan e Peter são dois idealistas, os “Jules et Jim” de Weingartner, que têm uma concepção original acerca do activismo de esquerda anti-capitalista. Desenvolvem várias acções encobertas, até que um dia, Jule, namorada de Peter, descobre o facto por Jan.
Jan e Jule fazem algo às escondidas de Peter e não tarda que as atribulações comecem… Sucede-se um rapto, um desentendimento, uma amizade, uma traição e uma convicção…
Este filme é uma pedrada na lógica sistémico-social das democracias dos dias que correm… Um grito de revolta, um manifesto político… Teme-se a ineficácia do manifesto, mas louva-se a intenção, a atitude e a voz…
Que mais a dizer de um realizador que, com trinta e seis anos e um percurso pela neurocirurgia, nos dá tantas razões para encarar o futuro do cinema como bem parado? Que mais a dizer de um realizador que consegue alcançar um público vasto, com ideias bem desenvolvidas e uma estética arrojada e contemporânea? Só espero que o próximo filme que está a fazer, “Free Rainer”, não seja um retrocesso na qualidade e originalidade do seu trabalho ou, se o for, pelo menos que sirva apenas para assegurar o financiamento da liberdade criativa que merece.
Por aqui me fico…
1 comentário:
Vi o filme ontem na RTP2 por mero acaso... Um fantástico acaso... Há quanto tempo esperava algo assim. Faz-nos olhar para as nossas vidinhas isoladas, para a forma como nos vergamos às normas sociais, faz com que se queira agir.
Angie
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