quinta-feira, maio 31, 2007

Efeméride...

1 ano de Projector do Sótão!

:D

sexta-feira, maio 25, 2007

Kiarostami, esse ilustre desconhecido...

Anteontem estava a ver na televisão aquele concurso das perguntas com o apresentador virtuoso e que tem a mania que é engraçado...

O concorrente principal (tinha sérias parecenças com o personagem "Trunks" da série de desenhos animados "Sangoku") viu-se deparado com a seguinte pergunta:

"Onde nasceu Abbas Kiarostami, realizador de "Através das Oliveiras" e "O Sabor da Cereja"?"

A pergunta tinha como respostas possíveis Tunísia, Iraque e Irão.

O concorrente, de imediato, formulou uma série de raciocínios:

-"Kiarostami é um nome de origem italiana";

-"As oliveiras são típicas do mediterrâneo (a este raciocínio o apresentador respondeu serem as cerejas típicas da Cova da Beira)".

Escusado será dizer que, com todo este processo mental, o concorrente lá conseguiu falhar, indicando a Tunísia como resposta correcta, sendo certo que, deste modo, o apresentador virtuoso e engraçado não teve que passar por uma vergonha tão grande por "nunca ter ouvido falar de Kiarostami"...

segunda-feira, maio 21, 2007

3º Festival de Cinema da Covilhã - O Capítulo Final (ou a constatação da existência do evento)

No último dia do Festival de cinema da Covilhã, lá consegui ver filmes (logo três)!

Devo dizer que não ocorreram, nesse dia, problemas de maior e que, feitas as contas finais, com maior divulgação, o evento teria sido de uma utilidade e importância extraordinárias, numa zona do país em que o cinema independente é repetidamente votado ao ostracismo...

Comecei a minha incursão no festival com a sessão das 18:00h e com um filme que já tinha visto e não me importo de rever quantas vezes forem... Estou a falar de "Play Time", realizado por Jacques Tati em 1967.

Tati, na minha opinião, pode ser analisado em dois quadrantes distintos.

Se, por um lado, o seu cinema é carregado de uma geometria perfeita no que diz respeito à composição dos planos, conferindo qualidade estética aos seus filmes; por outro, é o cineasta da comédia requintada. Fazendo uso da profundidade de campo e de alguns planos sequência, Tati consegue sempre mostrar pormenores preciosos. E não é um, nem dois, são muitos!

Lembro-me de ficar maravilhado quando vi "Mash" de Robert Altman pela primeira vez! Lembro-me de pensar para mim mesmo: "Incluir, num mesmo plano, várias situações simultâneas, com conversas simultâneas, é brilhante!"

Ora, Tati faz isto e muito mais! É genial!

Genial é também a personagem de Monsieur Hulot, interpretada pelo próprio Tati, neste, como em outros filmes. Incrível como, por vezes, Tati faz cinema mudo e a cores! Bem haja!

De resto, relativamente a "Play time", dizer apenas que este filme é uma dura crítica às sociedades cibernéticas e à globalização, muito embora, visto pelos olhos de um indivíduo do terceiro milénio, possa cheirar um pouco a "Velho-Restelismo"...

Acabada a sessão das 18:00h e descontado o intervalo para jantar, às 21:30 estava de novo no Teatro-Cine da Covilhã, desta feita para ver "Nuvem" de Gregor Schnitzler, realizado em 2006.

Confesso que quando li a sinopse do filme não me agradou muito a ideia de o ver e não o teria visto caso a sessão fosse à meia noite. No entanto, e uma vez que queria ver "Flirt" às 24:00h, decidi correr o risco.

O filme passa-se na Alemanha e tem como cenário um incidente numa central nuclear. A história centra-se no amor à primeira vista entre dois jovens, minutos antes do acidente.

Nada de novo aparentemente... Ou seja, quais os limites que um "click" nos pode impor e quais os esforços que podemos estar dispostos a fazer por um amor relativamente ao qual não temos provas, a não ser as que sentimos.

A primeira parte do filme está muito bem feita. A segunda metade está recheada de "clichés" e "lamechices", facto pelo qual não me agradou tanto.

O filme tem uma estética contemporânea, atestada pelo uso frequente da câmara em mão e, no enquadramento e sistematização do Festival, fez sentido a sua exibição antes de "Flirt".

Uma prespectiva ingénua do amor, que não deixa, apesar de tudo, de ser bonita e interessante.

Dizer ainda que o filme se pauta por uma certa dose de intervenção no que diz respeito à utilização de energia nuclear e aos acidentes que a mesma pode provocar.

O último filme deste dia de festival foi "Flirt", realizado por Hal Hartley em 1995.

Se, em "Nuvem", vimos o amor retratado de uma forma ingénua, em "Flirt" vemos exactamente o contrário, ou seja, uma prespectiva adulta e madura acerca das possibilidades de compromisso e dos medos que a essas possibilidades sempre estão adstritos.

Flirt é um tríptico composto por histórias sobre relacionamentos, dúvidas, apostas mal feitas, medos invariáveis, traições e compromissos.

A primeira história passa-se na América, a segunda na Alemanha e a terceira no Japão.

As histórias repetem-se, sendo que as duas primeiras são exactamente iguais, apenas mudando o cenário de fundo e a orientação sexual dos personagens.

Hartley constói uma equação. Um casal em que um dos personagens tem um caso com outro/a e em que esse outro/a também tem um relacionamento.

A última história, ligeiramente diferente das duas primeiras é, talvez, o decifrar da incógnita presente na equação e também o trecho do filme mais cuidado de um ponto de vista cinematográfico.

Passo a explicar. Hartley conta-nos histórias sobre o medo de assumir um compromisso, seja numa relação estável, seja num simples "flirt". No final dá-nos a entender que onde quer que exista medo o compromisso será sempre inviável.

É bonito o plano final e interessante do ponto de vista da significação. Curiosa aquela frase onde se pode ler "True Flirt"... E mais não digo, vejam o filme se puderem.

Para concluir, embora este filme seja um tanto ou quanto "freak" de um ponto de vista formal, vale bem a pena pela profundidade em que são explorados os personagens e pela densidade dos temas tratados.

sexta-feira, maio 18, 2007

3º Festival de Cinema da Covilhã - A sequela (ou como é gasto o dinheiro do erário público...)

Continuando a temática que tem vindo a preencher o conteúdo deste blog, apetece-me, por razões que explicarei, falar novamente do Festival de Cinema da Covilhã.

Ontem, por volta das 19:30h, e na esperança de poder ver "A Saudade de Veronica Voss" de Fassbinder, lá peguei eu no carro para fazer os 19km que separam o Fundão da Covilhã.

Uma vez que a projecção do filme estava anunciada para a "Cinubiteca da Universidade da Beira Interior" às 21:30h, chegado à Covilhã, estacionei o carro cá em baixo, junto do mais antigo pólo da U.B.I., na esperança de aí recolher informações sobre o dito espaço...

Fui tentando entrar no edifício, muito embora todas as portas que tentei empurrar estivessem fechadas...

Quinhentos metros à frente do sítio onde estacionei o carro, lá encontrei a porta da biblioteca aberta, pelo que entrei e perguntei ao empregado onde ficava a cinubiteca. Devo dizer que o senhor até foi prestável... "Vá por aqui sempre em frente, depois corta à direita, sobe umas escadas e vai dar à parada. Na parada deve encontrar gente e lá dizem-lhe melhor onde é..."

Cumprindo as indicações que me foram dadas, lá fui eu sempre em frente, virei à direita, subi umas escadas, e encontrei, de facto, um pátio que, em tudo, se assemelhava à descrição que me fora feita da parada... Com um único problema..., no percurso que fiz não vi vivalma... Ou seja, andei por um labirinto de corredores indefinidamente, sem ver ninguém e sem quaisquer indicações de onde ficava a Cinubiteca...

Sem baixar os braços, enveredei pelo meio do labirinto, até que encontrei uma porta onde se podia ver o seguinte aviso, que não pude deixar de fotografar com o telemóvel...
Fiquei, primeiro azul, depois um pouco arroxeado, até que por fim o meu semblante mais parecia da cor de uma viçosa folha de árvore... Perdido no meio de um labirinto deserto e sem saber sequer onde ficava a saída...

O resto da hitória é fácil de contar..., vinte minutos passados lá encontrei um segurança que me fez o favor de abrir uma porta sob pena de poder ter um ataque de claustrofobia a qualquer momento...

Ou seja, cheguei à U.B.I. por volta das 19:50h e saí de lá às 20:30h com o contentamento que se adivinha pela situação relatada...

Mas a minha querela não fica por aqui... Amanhã volto e, caso não haja filme, prometo escrever mais qualquer coisa...

quarta-feira, maio 16, 2007

3º Festival de Cinema da Covilhã (ou como é dificil aceder à cultura no interior...)

Na terça feira decidi procurar no google o cartaz de cinema do multiplex do Covilhã Shopping. Insiro as palavras chave "cinema + covilhã" e aparecem-me uma série de resultados.

Eis que, para minha surpresa, num dos resultados aparecem referências a um tal "Festival de Cinema da Covilhã". De imediato, carrego nesse link e chego à conclusão que o Festival decorre de 11 a 19 de Maio. Continuando as minhas pesquisas concluo que haveria um ciclo dedicado a Fassbinder e que seriam exibidos filmes como "Body Rice", "Transe", "Dans Paris", "Last Days", "Volver", "Grbavica", entre muitos outros...

Aqui começou a minha odisseia, mas por aqui não se ficou... Tentei pesquisar a existência de um site do Festival e népias...; tentei procurar no google "Festival de cinema da Covilhã" + "programa" e népias...; tentei, tentei, tentei... e népias...

Em conversa com o meu pai durante o almoço falei-lhe da questão e ele disse-me para ir ao Serra Shopping porque tinha a impressão de ter lá visto panfletos do dito festival.

Hoje, quarta feira, lá vou eu ao multiplex aqui da zona em busca de um programa... Perto das bilheteiras vejo uns pequenos livros do Festival. Tiro um, compro um gelado, vou para a esplanada e começo a folhear o livro.

Devo dizer que o livro até estava bem feito, mencionando todos os filmes que estariam em exibição no Festival e apresentando um pequeno texto sobre cada um deles. O único problema é que não existiam referências a horários e locais de exibição dos filmes...

Escusado será dizer que fiquei fulo!..., mas, ainda assim, dirigi-me às bilheteiras do multiplex para pedir esclarecimentos: -"Boa tarde! Olhe, eu vi aqui este livrete sobre o Festival de Cinema da Covilhã e não consigo encontrar horários nem locais de exibição dos filmes... Não me sabe dizer onde posso ter acesso a essas informações?" (disse eu) Ao que, de imediato, me respondeu a senhora das bilheteiras: - "Aqui no Serra Shopping só há as sessões para as crianças, que decorrem todos os dias às dez da manhã, mas eu já telefono à gerente..."

Aguardei o telefonema, a seguir ao qual me foi dito: - "Olhe que os horários estão todos nesse livrinho!" E lá começa a senhora a procurar os ditos horários...

Resultado: não havia horários nenhuns, nem locais de exibição!

Cansado, mas sem desistir, lá peguei eu no carro e fui ao Teatro Cine da Covilhã. Entro, vejo de novo o mesmo livrinho que estava no Serra Shopping e começo a desesperar... Até reparar que, ao lado, bem escondido, estava um pequeno flyer com a capa igual à do livro, esse sim contendo os horários e os locais de exibição dos filmes.

Isto tudo para dizer o seguinte: Toda a gente se queixa que não há cultura no interior! Toda a gente se queixa que não há iniciativas e hábitos culturais! Por Lisboa, há flyers em todo o lado; não há nenhuma iniciativa que não seja divulgada na internet; há newsletters com informação diversificada. Por estes lados até se vão fazendo umas coisas "jeitosas", só que ninguém as divulga... Custaria alguma coisa aos organizadores do Festival fazer um blog com a programação? O alojamento de blogs até é gratuito...

Enfim..., continuem a brincar aos eventos culturais que pode ser que daí advenham melhorias para o nível cultural do país... (pelo menos estatisticamente...)

Concluído o desbravar deste misterioso festival, resta-me a possibilidade de amanhã ainda poder ver "A Saudade de Veronica Voss" de Fassbinder e depois de amanhã "Playtime" de Jaques Tati e "Flirt" de Hal Hartley. É melhor pouco que nada...

terça-feira, maio 15, 2007

Cinema na televisão, "a treze de Maio"...

Nos últimos tempos tem sido só agricultura para aqui e agricultura para ali. Saio do escritório, vou para a lavoura, chego a casa completamente de rastos e já só há tempo e cabeça para, quando muito, ver um filme que passe na televisão. Já não subo lá acima ao sótão, já não vejo um filme de jeito há pelo menos três semanas e, naturalmente, falta-me assunto para escrever neste blog...

A coisa vai continuar assim durante uns tempos, até porque o fascínio da lavoura me anda a subir à cabeça à medida que o tempo vai passando. No entanto, anteontem quando cheguei a casa, ainda tive tempo para ver um filme que passava na televisão e, de tão hediondo que se mostrou, terei que falar nele...

O filme chama-se "The Miracle of our Lady of Fatima" e foi realizado em 1952 por Jonh Brahm.

Aproveito para dizer, desde já, que não tenho qualquer fé religiosa e, embora respeite aqueles que a têm, não deixo, no entanto, de me sentir intrigado e até um pouco confuso por fenómenos desta Natureza...

A primeira pérola do filme aparece logo ao início, numa espécie de prólogo introdutório. Diz-se que houve em Portugal uma revolução, a qual teve lugar em 1910 e, levada a cabo por um grupo de socialistas, tentou abolir todas as manifestações de fé católica no país. De imediato fiquei espantado por estas considerações históricas, até porque, o que sei da Revolução de 1910, me leva a crer ter a mesma sido efectuada por um grupo de burgueses, daí o seu epíteto de "Revolução Republicana"...

Mais, diz-se no filme que os socialistas perseguiram os padres, prendendo-os e tentando controlar ditatorialmente todas as manifestações de fé. Ora, comprendendo, como compreendo, o carácter laico da Revolução de 1910, consigo perceber muito bem quais as razões que levaram à perseguição da Igreja Católica, sendo certo que nenhuma delas se deveu à tentativa de instauração de um regime comunista em Portugal no ínicio do século passado.

E assim vai o filme continuando, sempre com o comunismo como pano de fundo, tentando dar a entender que Fátima foi a razão pelo qual o mesmo foi travado.

Há muito que considerava Fátima um fenómeno propagandístico do mais alto nível, mas até ter visto este filme não tinha entendido a questão na sua acepção plena... Meia dúzia de doidos em volta de três miúdos que supostamente comunicavam com a "Senhora" e progressivamente mais doidos e mais algazarra e mais fé e mais ignorância e mais pretextos para lutar contra o suposto comunismo e manter o atraso de um Portugal muito pouco iluminado pelo progresso...

Foi de fenómenos como este que se fez a história do Portugal de grande parte do séc. XX... Ora Fátima, ora futebol, ora fado... Só restaria porventura dizer "ora f***-se"!

Quanto ao filme propriamente dito, caberá dizer apenas que é brilhante na sua mediocridade artística, pomposo nas suas fundadas considerações ideológicas e honesto na intenção programática de conservar um Portugal genuíno na pobreza, na ignorância e no atraso...

Ironias à parte, vejam o filme se puderem, vale a pena analisa-lo como documento histórico e propagandístico, no que à manietação de massas menos informadas diz respeito...