quinta-feira, janeiro 25, 2007

Peeping Tom

"Peeping Tom" foi realizado por Michael Powell em 1960. Na época foi um filme mal amado, de tal forma que quase destruiu a carreira do realizador. Alguns anos mais tarde, porém, Martin Scorsese ressuscitou-o no Festival de cinema de Nova York, promovendo sessões do filme e restauro das películas. Não é, ao acaso, que este se tornou um filme de referência para Scorsese e para De Palma, entre outros.

O filme é um thriller, que narra a história de um operador de câmara, Mark, atormentado por traumas de infância. Desde miúdo que o seu pai, um médico, fazia estudos sobre o medo e o efeito que este poderia causar nas pessoas. No âmbito de tais estudos Mark foi várias vezes usado como cobaia, interiorizando uma patologia voyeurista. O pai costumava filmá-lo em inúmeras situações, ao ponto de, na sua maior obra, um compêndio científico sobre o medo, Mark figurar nos agradecimentos como alguém sem o qual o livro nunca teria sido escrito.
Mark tem todo o espírito de fotógrafo, parecendo querer "roubar" as imagens que vai encontrando. Mas, no meio de toda essa sensibilidade, tornar-se-á um "serial killer", tendo como objectivo último filmar a cara de uma pessoa enquanto morre e olha para si própria. É pelo medo que Mark se interessa, tentando fazer a experiência derradeira, em que ele próprio protagonizará um papel.
Não será difícil adivinhar a razão porque o filme foi repudiado na época. É demasiado perturbador, demasiado doentio... Para quem, no dias que correm, já levou com uma série de blockbusters sobre assassinos em série, versando patologias que, por vezes nem existem, a temática do filme será, quiçá, corriqueira. No entanto, a complexidade psicológica entre a qual o filme está intrincado é de uma densidade tremenda. A personagem de Mrs. Stephens está muito bem construída, aproveitando-se muito bem a ideia de que apenas ela conseguiu ter um vislubre do que se passaria com Mark, ainda que sendo cega. Por tudo isto, a obra prima de Powell perdura. É um filme extremamente bem feito, meticuloso. A selecção dos planos é brilhante, com uma sequência inicial, em que o plano é definido dentro de uma câmara, que arrebata o espectador desde início. A montagem do filme é perfeita, tal o efeito que os raccords imprimem na atenção do espectador. É por estas e por outras que Scorsese terá afirmado que há dois filmes que têm tudo o que pode ser dito acerca da realização, "Otto e mezzo" de Fellini e este "Peeping Tom".

2 comentários:

Capitão Napalm disse...

Eu, Peeping Tom, penso que "Peeping Tom" é talvez a mais brilhante constatção do voyeurismo presentes em duas faces do Cinema: o realizador e o espectador. Aquele plano da rapariga a ver o trabalho do nosso "herói" síntetiza na perfeição o que é isto de Cinema: alegria, apreensão, medo. Pure Genious.

Hugo disse...

Peeping Tom tem razão. Nada a apontar.