segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Pensamento superior, rasa biologia, ou "o oriente sempre fora muito à frente"?

"Sob a influência do teatro Kabuki Eisenstein começou a ver a montagem como uma actividade de fusão ou síntese mental, através da qual pensamentos particulares eram unificados a um nível de pensamento superior, e não como uma série de explosões no interior de um motor de combustão, opinião que antes tivera. Eisenstein estava fascinado pelo uso de convenções, máscaras e vestuário simbólico que caracteriza o teatro do Oriente. Começou a interessar-se pelas ideias dos japoneses sobre composição pictórica. Sob o sortilégio do Oriente, a montagem tornou-se difusa para Eisenstein. Por fim, o teatro japonês sugeriu ao cineasta o conceito de "conjunto monistíco" que cada vez mais começou a dominar o seu pensamento, vindo a culminar nos excessos wagnerianos de que enfermou a sua produção das Valkyrie. O modo como o som e o gesto funcionavam no teatro Kabuki fascinava-o; questão que, aliás, se tornou para ele cada vez mais crucial ao dar-se conta que o filme sonoro seria a forma do futuro. Mais uma vez, bastante dentro ainda da tradição de Meyerhold, reagiu com a ideia de que o filme sonoro significava a supremacia da palavra falada e procurou um modo diferente de combinar as componentes aural e visual do cinema. Eisenstein compreendeu que no teatro Kabuki a linha de um sentido não acompanhava simplesmente um outro, mas que ambos eram inteiramente intermutáveis, elementos inseparáveis de um conjunto monístico."


In: Signos e significação no cinema - Peter Wollen

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