Sweet and Lowdown
Da infindável pilha de filmes que tenho mas ainda não vi, decidi-me ontem a tirar este "Sweet and Lowdown", realizado por Woody Allen em 1999. Emmet conhece Hatie, uma dócil muda, que lhe aturava tudo sem retorquir (talvez por imperativos fisiológicos...). Pela primeira vez Emmet decide-se a ter uma relação estável, mas, quando conhece Blanche (Uma Thurman), de imediato deixa Hatie e a substitui.
Blanche é uma personagem muito bem conseguida. Há ali qualquer coisa de Uma Thurman que é sempre invariável, aqueles aspectos de "Black Mamba" que nunca consegue despir no cinema... Blanche é diametralmente diferente de Hatie. É uma mulher independente, que se consome por diambolações intelectuais (por vezes não muito ricas) e que, a final, trai Emmet, destruindo-lhe o tão precioso ego que exalava.
Emmet volta a ver Hatie, mas cedo se apercebe que está desorientado, que pela primeira vez na vida a sua forte personalidade foi posta em causa. É este o momento chave no filme. É nesta altura que Emmet passa a ser ele próprio. É a partir daí que Emmet consegue por de parte o seu ego e exprimir todos os seus sentimentos, abandonando a imagem de "macho obstinado" que sempre o acompanhara. Deixa tudo e todos, isola-se socialmente, e consegue finalmente ser tão bom como o seu ídolo "Django Reinhardt", registando, no final de vida, as suas melhores e mais expressivas gravações.
Esta é a parábola moral que Woody Allen, bem ao seu jeito, nos deixa. A ideia de que a criatividade, para ser total, tem que ser genuína e que a vergonha em expressar sentimentos apenas a poderá toldar.
"Sweet and Lowdown" é um filme com uma estrutura documental. Mais uma daquelas experiências de Woody Allen, que nos provam como pode o seu cinema ter aspectos diversos do "Judeu em Manhattan". Não é uma obra prima, nem de longe, mas vale a pena ver pela delicadeza da história de Emmet Ray. 
5 comentários:
Vi o filme no cinema e na altura fiquei surpreendida com o registo de documentário. Também foi com este filme que descobri Django Reinhardt.
Roberto: De facto longe vão os tempos de Manhattan, A Rosa Púrpura do Cairo e Annie Hall... De qualquer forma, o cinema de Allen, embora não tão perfeito do ponto de vista formal, continua a ser extremamente interessante.
Wasted: Foi exactamente o que também me surpreendeu neste filme. Pensei cá para mim: "O Woody a fazer um documentário?!?"
Quanto a Django Reinhardt, já conhecia, embora não fizesse a mínima ideia de que tinha sido Emmet Ray...
Um bom filme som duas excelentes interpretações: Sean Pean e Samantha Morton
Gostaria de saber se Emmet e Django são a mesma pessoa?
Monka:
Não são... O Django existiu, há gravações dele e foi um grande guitarrista... O Emmet não sei bem se existiu ou se foi uma lenda... Mas um visionamento do filme esclarece-te algumas dúvidas...
Cumprimentos cinéfilos!
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