segunda-feira, dezembro 18, 2006

Um possível roteiro pelo cinema asiático

O objectivo deste roteiro é apenas dar uma ideia do que se faz pelo oriente, e ,como é óbvio, não está isento do meu gosto pessoal. É pois provável que não vejam aqui referidos os grandes nomes do terror japonês nem do cinema de acção e artes marciais. Ficará também patente que, pelo facto de conhecer melhor a sua obra, há países sobre os quais me sinto mais à vontade de falar do que outros, havendo alguns sobre os quais irei debruçar-me sobre os clássicos enquanto que noutros casos apenas falarei ao de leve sobre o cinema actual. Dizer ainda que o objectivo não é criticar nem informar sobre os filmes em si, mas apenas indicar um possível percurso... Em todo o caso penso que será um bom ponto de partida para quem não conhece o cinema oriental... Só uma última nota: tendo em conta que não conheço o nome de todos os filmes em portugês, e que na língua original não passarão de sons sem sentido, vou optar por usar sempre o nome em inglês...



O cinema chinês mais recente (1980 - ) tem um cunho pessoal que o distingue do resto do cinema asiático, não fosse a China uma ditadura opressiva. Deste modo, as condições políticas, mesmo não estando assumidas nos filmes, são indissociáveis do produto final, visto certos temas serem tabu, enfrentando os realizadores a possibilidade de serem perseguidos pelo sistema caso aflorem certos temas mais problemáticos. Em todo o caso, eu penso que ao longo do tempo os criadores chineses têm conseguido produzir obras geniais mesmo nestas condições, sendo disso exemplo a obra de Chen Kaige e Zhang Yimou, designados como os mestres da quinta escola ou, mais recentemente, Jia Zhang Ke, a figura de proa do novo chinema chinês.Começando pelo primeiro há dois filmes obrigatórios: "Yellow Earth", uma viagem à China profunda dos tempos da grande marcha, e "Farewell My Concubine", para mim um dos filmes mais perfeitos de todos os tempos. Em relação a Zhang Yimou, apesar de se ter tornado mais conhecido pelos últimos filmes de artes marciais("House of Flying Daggers" e "Hero"), a sua obra vai muito mais além, sendo isso visível em "Not One Less" e no magnífico "Raise the Red Lantern". Por fim falta falar de Jia Zhang Ke,recentemente premiado em Veneza por "Still Life", o qual apresenta uma obra na totalidade muito boa ("Pickpocket" ;"Platform" ;"Unknown Pleasures" e "The World") com um fio condutor comum: a inadaptabilidade da sociedade chinesa ao advento do capitalismo.



O cinema japonês é talvez aquele que mais tem chegado aos nossos ecrãs e provavelmente o que o espectador ocidental melhor conhece...Em relação aos marcos históricos, existem, pelo menos, três nomes a reter: Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi e principalmente Akira Kurosawa. O primeiro, cuja obra é um reflexo da sociedade dos anos 50 e 60 e reflecte todas as mudanças operadas na altura, possui na sua parte formal uma característica única no cinema mundial, que é o facto de todos os planos serem captados de baixo para cima, o que, tendo em conta que um japonês que vivesse nessa altura passaria bastante tempo a olhar o mundo dessa posição, tem algum sentido. Em relação à sua obra aqui ficam duas propostas "The End of Summer" e o seu mais aclamado filme, "Tokyo Story". Ao contrário de Ozu, a obra de Mizoguchi está longe de ser contemporânea, recaindo principalmente sobre a história do Japão, sendo os seus filmes mais conhecidos "Tales of a Pale and Mysterious Moon After the Rain" e "Diary of Oharu". Também Kurosawa optou por se debruçar sobre o passado tendo adaptado com sucesso a técnica dos Westerns aos filmes de espada e samurais. Hoje em dia é considerado um clássico mundial e filmes como "Ran", "The Hidden Fortress", "The Bodyguard" ou "Seven Samurai" são marcos da história do cinema.Andando para a frente no tempo e passando ao lado dos novos nomes do cinema de terror como Kiyoshi Kurosawa, Hideo Nakata ou Takashi Shimizu, mais alguns nomes marcaram, ou começam a marcar, pontos: Shohei Imamura, galardoado por duas vezes com a palma de ouro com os filmes "The Eel" e "Ballad of Narayama", Nagisa Oshima com "Merry Christmas Mr. Lawrence" e o polémico "In the Realm of the Senses", Takeshi Kitano com "Dolls" e "Fireworks" e Takashi Miike ("The Bird People in China", "Gozu" ou "Audition") para muitos um realizador de culto.Mas não só o cinema convencional tem um lugar de destaque no Japão, também a animação atingiu ao longo do tempo um patamar bastante importante. "Akira" de Katsuhiro Ôtomo e "Ghost In The Shell" de Mamoru Oshii, a par de outros, são considerados como os filmes que lançaram o fenómeno Manga, hoje um culto à escala mundial.. No cinema mais infanto/juvenil o estúdio Ghibli marca pontos com dois realizadores geniais nas suas fileiras: o aclamadíssimo Hayao Miyazaki, realizador de "Spirited Away", "Princess Mononoke" e "Kiki's Delivery Service", e Isao Takahata criador de "Grave of the Fireflies" (para mim um dos melhores filmes de animação da história) e de "The Raccoon War".



A Coreia do Sul é talvez, de todos os países asiáticos, aquele em que se deu um maior "boom" criativo nos últimos tempos. Por entre a imensa panóplia de filmes interessantes dois realizadores foram ganhando destaque, Kim Ki-duk ,autor de filmes como "3-Iron", o belíssimo "Spring, Summer, Fall, Winter... and Spring" ou "The Isle", e Park Chan-wook com a sua trilogia sobre a vingança, "Sympathy for Mr. Vengeance", "Old Boy" e "Sympathy for Lady Vengeance". Outros filmes que também merecem ressalva são "Oasis" de Lee Chang-dong e a comédia romântica "My Sassy Girl" de Kwak Jae-young, um filme bastante diferente do estereótipo associado ao género..



Em relação a Taiwan três nomes saltam à vista: Hou Hsiao Hsien com filmes como "A City of Sadness", "The Puppetmaster" e "Millennium Mambo", Edward Yang com "Yi Yi" ou "A Brighter Summer Day" e, apesar de nascido na Malásia, mas há muito radicado em Taiwan, Tsai Ming-liang, um realizador com um universo muito peculiar. Adepto do plano fixo e de um ritmo muito lento, não deixa por isso de ter produzido alguns filmes bastante marcantes tais como "The Hole", "Vive L'amour" ou o meu favorito "Rebels of the Neon God".



De Hong Kong vem um dos maiores nomes do novo cinema asiático: Wong Kar Wai. A sua obra possui alguns dos filmes mais belos e sensuais realizados nos últimos anos: "In The Mood For Love" e "2046" são filmes obrigatórios e "Fallen Angels" ou "Chungking Express" possuem também o toque muito único do realizador o que os transforma em obras a não perder.


Referir ainda o vietnamita radicado em França, Tran Anh Hung, cuja obra ("L'Odeur de la papaye verte", "Cyclo" e "Vertical Ray of the Sun") é um bom exemplo da capacidade de cruzamento entre Ocidente e Ásia e tem sido premiada por toda a Europa.

3 comentários:

papagueno disse...

Sempre preferi o japonês: Mizoguchi, Kurosawa e, claro, o mestre da animação japonesa, Miyazaki que faz parte do meu imaginário juvenil.

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Faço minhas as palavras do Rubens. Bom artigo, sim senhor! Sintético, mas muito objectivo!

Bijoy disse...

Nice post, its a Super cool blog that you have here, keep up the good work, will be back.

Warm Regards

Ran Movie Review