Stroszek
Bruno sofre de atrasos psico-intelectuais e é liberto de uma cadeia, onde tinha sido encarcerado devido às zaragatas que frequentemente arranjava, dado o seu estado mental. Nesse momento conhece Eva, uma prostituta, por quem imediatamente se apaixona, e Scheitz um velho delirante e castiço, seu vizinho.
Bruno é, de certa forma, uma personagem carente e sensível. É músico nas horas vagas e toca deambolando pelas ruas. Não tem noção das coisas mais elementares, é nayf e deixa-se enganar com uma facilidade tremenda por quem quer que seja.
Este filme é uma crítica ao mundo dos números, ao mundo em que o dinheiro se torna necessário e o bom coração um peso. Uma crítica à América do sonho sonhado, que a realidade destrói e torna pretérito.
Estamos habituados a ver os grandes realizadores fazerem enormes exigências aos actores. Veja-se, a título exemplificativo, Polanski e Adrien Brody, ou Von Trier e Bjork. Pega-se num argumento com o cunho pessoal do "auteur" e o actor tem que se enquadrar na personagem previamente delineada. Aliás, é isso que vulgarmente distingue um actor de um amador, a capacidade de ser muitos eu's, de representar, de fingir, de ser o que não se é.
- Bruno Stroszek é o personagem, Bruno S. o actor.
- Bruno Stroszek esteve preso várias vezes, Bruno S. deambulou por hospitais psiquiátricos até aos vinte e três anos.
- Ambos têm problemas mentais.
- Ambos são músicos.
Existe quase uma fusão entre o personagem e o actor, forma que Herzog vê como a melhor para atingir a naturalidade que procura, sem que com isso desvirtue o dramatismo, não o tornando perfeito, mas real. Acrescente-se que Herzog tem por hábito usar actores amadores, assemelhando-se a Pasolini neste aspecto.
A finalizar, uma curiosidade. Terá sido este o filme que Ian Curtis viu antes de se suicidar e é interessante o paralelismo que se pode estabelecer entre Curtis e Stroszek. Curtis suicidou-se uns dias antes de iniciar a primeira tourné nos Estados Unidos, depois de ver um filme sobre alguém que vai para América à procura de muito e não encontra nada. Interessante, tão só...
Vale a pena ver a ingenuidade de Bruno, a alienação de Scheitz e o oportunismo de Eva, à deriva por um mundo que não foi feito para eles e não lhes reserva o melhor dos desfechos. O final tem tanto de extasiante como de bizarro, mas é bonito, naquilo que parece ser uma metáfora, das mais bem conseguidas na história do cinema.
Herzog no seu melhor!
3 comentários:
A transparência da interpretação suplanta o naturalismo, enquanto visionamos uma representação de si mesmo, também como figura alegórica para uma determinada metáfora pessoal existencial.
O paralelismo entre entre Curtis e Stroszek é realmente incontornável.
Cumprimentos.
Entendo o que queres dizer e, de certa forma, até concordo. Mas acho que a intenção do Herzog é precisamente atingir a naturalidade por via da intepretação actor/pessoa e da simbiose dos dois conceitos. Ora, essa simbiose é, parece-me, a figura alegórica de que falas.
Quanto à questão Curtis/Stroszek, concordo contigo, não que o Curtis se tenha suicidado por causa do Stroszek, mas porventura terá sido a machadada final...
Saudações Bloguísticas!
Onde eu acho este filme ???
marinhomarisa@uol.com.br
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